sexta-feira, 20 de julho de 2018

OS INGLESES FELIZES


Gente feliz num domingo de sol em Trafalgar Square
Estamos felizes e sabemos disso”, estampava uma manchete interna do jornal inglês The Times na semana passada. “Mas o quanto isso pode durar?”, indagava ao final. De fato, os dias que passei na Grã-Bretanha foram dias de muito sol e calor. Isso altera o humor das pessoas. Para aumentar ainda mais a alegria inglesa, o desempenho de sua seleção na Copa do Mundo, chegando pela primeira vez desde 1990 numa semifinal da Copa  também contribuía para a alegria nacional.
Bem que percebi. Quando soube dos prognósticos do tempo na Velha Ilha, tratei de botar na minha mala algumas roupas de frio. O verão costuma ser mais ou menos o nosso inverno em Campinas. Temperaturas entre 14 e 25°C . No entanto, em alguns momentos de nossa estada por ali, vimos temperaturas de até 30°C, numa onda de calor que já dura quase dois meses.
Nas ruas, viam-se shorts, bermudas, sandálias. Filas para sorvete. Ruas lotadas, praças mais ainda. À noite, casais passeavam pelas ruas de mãos dadas, felizes. O índice de alegria dos ingleses é em média 7,3/10 segundo a matéria do Times, citando um trabalho de Andy Rope, chamado em tradução livre de “Felicidade: seu roteiro para a alegria interior”. No entanto, naqueles dias quentes de verão e bons resultados do futebol, a alegria inglesa beirava os 9,5 segundo o jornal.
Claro que não era tudo maravilha. A própria matéria reconhecia que eles estavam num momento atípico. Lembravam do mau humor britânico de 2016, quando eles perderam George Michael, Prince, David Bowie. E, além do mais, eles votaram pelo Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia.
Naquele momento, nos finais de semana de verão, o centro da cidade era tomado pelas pessoas. No sábado, 7/julho, o Gay Pride londrino reunia dezenas de milhares de pessoas no tradicional bairro gay do Soho, numa alegria carnavalesca. Britânica, é claro. As grandes avenidas do centro estavam proibidas para os carros, e haviam diversos shows de música pelas ruas, de todos os tipos e gostos. Enfim, dias bons e alegres.
Na Trafalgar Square, as pessoas se acumulavam a beira dos chafarizes, conversando, tomando sorvete, bebendo cerveja. Famílias inteiras, muitos idosos, pessoas de todas as cores e todas as procedências. Africanos, indianos, asiáticos, e muitos latino americanos. Deus, como tinha brasileiro por lá! Volta e meia ouvia-se aqui e ali uma língua que eu conseguia entender mais ou menos. Trafalgar Square estava linda e ensolarada. Tanto que lá de cima de seu monumento colossal, Lord Nelson deve ter tido vontade de descer e aproveitar o momento.
Segundo um depoimento do prof.  Richard Wiseman (!) da Universidade de Hertfordshire nesta mesma matéria do The Times, quando o sol aparece as pessoas se tornam mais dispostas a aceitar e ser generosas com estranhos. No entanto, acima dos 21°C as pessoas vão se tornando mais agressivas e violentas. (Ainda bem que nós, seres dos trópicos, não participamos desta estatística...).
Os (poucos) dias que passei em Londres deu pra sentir essa alegria. Andamos e muito pelo centro da cidade, onde com frequência víamos as pessoas espantadas com tanto calor. E com tanto sol. De volta para a ensolarada Campinas, com temperaturas parecidas (mas no inverno!), fico aqui pensando como temos estado tristes e depressivos com nossa situação, com nossa política, com nossa economia. Estamos tristes nos trópicos.
A alegria dos britânicos dura pouco, e por isso mesmo, é bom que eles aproveitem. Segundo o peculiar humor deles, as vezes o verão (lá deles) cai no fim de semana. A matéria do Times terminava alertando para que as mudanças sazonais de humor não impactem tanto nossas vidas. Prof Wiseman, sábio como ele só, diz que “temos que ligar nossa identidade com coisas que estão no nosso controle, como o trabalho ou relacionamentos”. Ser um pouco estoico ajuda, segundo ele. A matéria termina clamando por mais estoicismo e por mais drizzle, a chata garoa londrina.
Nós aqui, no nosso ensolarado continente, precisamos superar nossa tristeza e apatia. Como? Tem várias maneiras. Ajudar uma causa, comer comida saudável, fazer exercícios. Participar dos problemas do nosso trabalho, do nosso bairro. Estar com a família, os amigos. Escolher bem seu candidato nas próximas eleições. Procurar soluções coletivas para problemas comuns.
Os ingleses até podem atrelar a alegria deles a um verão, ou à seleção de Gareth Southgate (?).
Para nós, alegria é a prova dos nove.

4 comentários:

  1. Relação sutil esta comparação meu amor. O que temos de mais perto no momento é votar bem nas eleições. Fundamental.

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    1. pois é, meu amor! Muito obrigado! concordo, votar com o fígado dá em trump, brexit ou....Bolsonaro!

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