sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

FAZER AS PAZES NO VALE DO PARAIBA



Vista aérea de Jacareí e do Rio Paraíba do Sul em 1940, pouco antes dos escoteiros de Antonina passarem por ali. 
As sete horas da manhã, os escoteiros acordaram com os apitos da Maria Fumaça. Aquele dia, eles dormiram na cadeia de Jacareí, hospedados pelo delegado Clodoaldo de Abreu. Clodoaldo, que era irmão do comerciante antoninense Leopoldino de Abreu, havia recebido os meninos com a cordialidade de conterrâneos que se encontram no estrangeiro. Oferecera-lhes um rancho reforçado e deixara que estendessem as roupas molhadas no varal da cadeia. Não devia estar muito cheia a cadeia de Jacareí nesta quente sexta feira de janeiro de 1942.
Neste mesmo dia, os jornais do Rio de Janeiro noticiavam o início de uma ampla ofensiva Soviética na Ucrânia. Os japoneses ameaçavam Singapura, na Ásia. Mas a maior noticia da guerra, no entanto, era ali no Rio. Chanceleres de praticamente todos os países americanos estavam reunidos na capital federal, para discutir solidariedade internacional e repudio ao ataque japonês recém sofrido pelos Estados Unidos na base naval de Pearl Harbour, no Havaí.  
A III Conferencia de Chanceleres dos países americanos no Rio de janeiro em janeiro de 1942 significou um alinhamento da maior parte dos países à causa aliada. A partir daí a beligerância iria aumentar, bem com o ataque de submarinos alemães a navios brasileiros, forçando Getúlio Vargas a declarar guerra aos países do Eixo em agosto de 1942.
Enquanto isso, ali na delegacia de Jacareí, os meninos tomaram rapidamente o seu café. Logo, se puseram na estrada. Ao meio dia, pararam na localidade de Rio Comprido, próximo a São José dos Campos, onde lancharam café com leite, pão e ovos fritos. Lydio anotou em seu diário que essas despesas foram da ordem de 7.500 réis.
Logo depois, morrendo de calor, atravessaram um pequeno córrego e passaram por um pequeno aglomerado de casas chamado Vila Ema, onde ganharam alguns abacaxis, prontamente devorados. Continuaram subindo o morro até São José dos Campos.  Atravessarem rapidamente a cidadezinha e acamparam a uns 4 km adiante, num pequeno campinho.
Fazia trinta dias que os bravos escoteiros haviam saído de Antonina, em sua marcha rumo ao Rio de Janeiro. Era um momento de celebração no meio da viagem. A barraca foi armada e a fogueira acesa.
O “banquete” constou de peixe seco, farinha de milho, arroz e café com leite, acompanhado de pães quentes. Essa estranha mistura foi acompanhada de uma intensa discussão sobre os planos vindouros e para apagar os desentendimentos do passado recente.
Havia poucos dias, na altura de Guararema, o desentendimento entre os quatro meninos e o chefe Beto havia posto a missão em risco. Houve um estranhamento, eles se separaram, mas depois voltaram a se encontrar. Havia magoas a serem postas de lado. E, conta Lydio, foi o que fizeram. dali a pouco estavam contando piadas e rindo, despreocupados.
Aquele era um momento difícil na historia da humanidade. Ao longe, milhões morriam nos campos de combate e nas cidades conflagradas. O Brasil vivia um momento de apreensão em saber para qual lado penderia nesta guerra. Lá longe, na pequena Antonina, suas famílias estavam apreensivas com o que estava acontecendo com os cinco rapazes.
Afastado o desentendimento, eles estavam bem. Lydio conta em seu diário que tirou sua gaita de boca do bolso e todos começaram a cantar as marchinhas do carnaval daquele ano. Quase todos sabiam de cor todas as letras, pois eles as ouviam com frequência no rádio. Um pouco mais longe, sentado num toco de madeira, chefe Beto cachimbava.
Ao anoitecer, cada um procurou se aconchegar num canto da barraca e dormiram o sono dos cansados.

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