sábado, 16 de setembro de 2017

ANTONINA EM 1854 (parte 8)



Se nada mais adiantasse contra a cólera, era preciso recorrer as orações...
A epidemia de cólera estava batendo à porta da Deitada-a-beira-do-mar. A população estava apavorada. As autoridades, embora tomassem diversas medidas, não sabiam exatamente o que fazer. Havia uma certa noção que a higiene era importante. Mas não se sabia como a cólera se transmitia. Nem qual seria o tratamento mais adequado. Assim a cólera se espalhou por todo o mundo no século XIX.
Estas pandemias de cólera foram extremamente mortíferas em suas várias manifestações nos últimos duzentos anos. Houve um grande esforço por parte dos governos e dos cientistas de todos os países para se descobrir as causas e também a cura para a doença. Sabe-se que o vibrião colérico foi descrito pela primeira vez em 1854 pelo médico italiano Filipo Pacini (1812-1883) e pelo inglês Robert Koch (1843 - 1910) que fez o anúncio da descoberta do bacilo da cólera em 1883.
Na Inglaterra, os trabalhos do médico John Snow (1813-1858) foram decisivos para que se descobrisse os modos de contaminação. Mas métodos eficazes de controle da cólera só seriam viáveis décadas depois disso.
No Brasil de 1850 também não se tinha um quadro completo de conhecimento para impedir a propagação da doença. Estima-se que o cólera tenha feito cerca de 200 mil vítimas no período 1855-56. Isso no tempo que a população total do pais era de aproximadamente 8 milhões de habitantes. Segundo Donald Cooper (ver aqui) , cerca de dois terços das vítimas foram provavelmente os escravos, que viviam em situação mais precária de higiene.
No entanto, como tratar a doença? As opiniões entre os médicos e autoridades também eram as mais diversas. Para alguns, um remédio infalível seria o sumo de limão. No Pará, onde o surto da doença foi bastante forte, o próprio presidente da província pareceu ter se convencido dos poderes curativos do suco de limão. A carta que o Presidente da Província do Pará escreveu foi publicada no dezenove de dezembro, na qual ele relata o tratamento (veja aqui). Na matéria publicada há também a citação de diversas pessoas que teriam sido curadas quando tratadas com o sumo de limão. A lista é bastante extensa.
Há também uma nota falando de um remédio sugerido por um médico francês, que seria também bastante eficaz (veja aqui).
Como em todo o caso de grandes epidemias, tentava-se de tudo o que estivesse ao alcance. Talvez não tenham sido poucos os que recorreram a curandeiros e a simpatias, remédios caseiros e outras formas de cura.
Também haviam as soluções metafísicas para a epidemia. Existem no período diversas publicações no jornal, onde se vendem as populares orações da estrela do céu e a oração de nossa senhora do desterro. Essas são orações muito comuns, que as pessoas deveriam comprar impresso e carregar consigo como proteção para a peste. Nossa Senhora do Desterro era a santa que protegia das pestes, bruxarias e calamidades. Era a ela que os piedosos e devotos habitantes da Deitada-a-beira-do-mar recorriam nestes momentos de aflição.  
De qualquer forma, parece que em 1857 os efeitos da epidemia parecem ter passado. Numa comunicação do presidente da província o texto cita a salubridade da província, que fora poupada pelo cólera. Da mesma forma, os hospitais improvisados construídos em Paranaguá e antonina foram desmobilizados (veja aqui). O governo imperial estabeleceu poucos anos depois um código para os portos onde estabelecia diversas normas de higiene (Ver o Código Naval do Império aqui).
E as outras doenças? Quais eram as doenças mais comuns em antonina e no litoral neste período? Como as pessoas se tratavam?

2 comentários:

  1. Me senti carregando comigo a oração a Nossa Senhora do Desterro. Abraço!

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    1. Pois então, a Santa dos desterrados...me identifiquei também...

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