As epidemias eram grandes ameaças no século XIX. Capa da Revista Ilustrada de 1876 mostrando a grande ceifeira aprontando as suas...e Antonina? |
Antonina em 1854 era um lugar
insignificante. Quando esteve brevemente na Deitada-a-beira-do-mar, em 1858, foi
com essa palavra que o naturalista suíço Johan Tshudi descreveu a cidade (aqui). No entanto,
ele não deixou de ressaltar que o cenário da cidade, com as serras ao fundo,
fosse realmente encantador. Tshudi passeou pela cidade com somente ”duas ruas paralelas e uma fileira bem
comprida de casas, que dão para uma praça coberta de capim, onde pastavam
cavalos e vacas”.
Segundo Ermelino de leão, o que
existia era a Rua Direita, a atual XV de novembro, e a Rua da Charqueada, atual Carlos Gomes da Costa. Esta última
passou a se chamar depois rua de São Benedito, cuja igreja, ainda em construção, era a mais importante
construção da rua. As duas ruas iam dar no largo da Matriz, a atual praça
Coronel Macedo. Por ali, no campo aberto próximo da colina o mato crescia e todos deixavam para pastar os animais que Tshudi
viu. A outras ruas, como a ladeira que vinha da matriz (a Ladeira da
Matriz, portanto), as ruas da Fonte e do Lava-pés, citados por Ermelino, eram
somente “carreiros” por entre as casas.
No entanto, a pequena e
insignificante villa, que se tornaria oficialmente cidade três anos depois,
tinha planos para si própria. Em 5 de setembro de 1854 é publicado nos jornais
(aqui) uma resolução da Câmara Municipal da Villa
Antonina sobre as posturas municipais. Posturas municipais são uma série de
normas que as câmaras municipais produzem para ordenar as cidades (aqui).
O decreto estabelecia que os proprietários
de datas teriam um prazo de até dois anos para edifica-las, sob pena de multa. Depois
de 10 anos, a câmara poderia desapropria-lo. As casas eram obrigadas a serem
alinhadas pela direção das extremidades da rua.
Os muros deveriam ter um mínimo de
12 palmos de altura, ou seja, cerca de 2,7 m. Os muros e as casas deveriam ser
caiados ao menos a cada dois anos, sob pena de multa. Também era obrigatório o
calçamento das frentes das casas, no nível da rua. Tudo isso era ônus do proprietário.
Quem tinha carro, ou seja, carro
de tração animal que trafegasse pelas ruas da vila deveria pagar uma taxa de 2
mil reis anuais. Aos infratores, a multa triplicava.
Também os negociantes ambulantes tinham
que pagar uma licença anual. Era comum naquela época a grande quantidade de
vendedores ambulantes andando com tabuleiros e caixas pala cidade como pelas áreas
rurais.
Havia uma preocupação grande com a
saúde pública. O artigo 8º da resolução previa multas para quem deixasse
porcos, cães e cabras vagando pelas ruas. Da mesma forma, todo aquele que
atirasse as ruas “qualquer coisa de fácil putrefação”, ou que servisse de
estorvo ao trafego de pessoas e carros deveria pagar uma multa e era, além disso,
obrigado a lança-la fora. No caso de não se saber quem foi o porcalhão, o fiscal
fazia o lançamento às custas da Câmara.
Era evidente a preocupação
higienista do poder público. Naquela época acreditava-se na teoria dos miasmas,
que eram doenças transmitidas pelo ar. Quando esteve em Antonina em 1883, o
jornalista teuto-brasileiro Karl Von Koseritz (1830-1890) (aqui)
notou que Antonina não era uma cidade limpa. O que o preocupava era que “O pior estado sanitário é devido à extraordinária
extensão das marés”. A lama do mangue assim exposta ao sol fazia Koseritz
acreditar que em Antonina “não deverão faltar os miasmas”.
A
população da cidade se preocupava com sua saúde. Nos anos 1850 os surtos de cólera no Rio
de Janeiro preocupavam as autoridades da nova província (aqui). Antonina e Paranaguá
eram os locais mais preocupantes, devido as ligações marítimas frequentes com a
Corte. Havia inclusive o projeto de uma quarentena para possíveis infetados na
estrada da Graciosa e do Itupava.
No
entanto, como resistir? Segundo o relatório enviado ao Presidente da Província,
relatam planos a serem desenvolvidos no caso de uma real epidemia. Haviam
poucos hospitais, com poucos leitos. Algumas localidades possuíam poucos médicos
e algumas onde não se encontra “ao menos um curandeiro”.
Felizmente,
a tal epidemia de cólera não veio. Mas, e se viesse? Como poderiam os nossos
trisavós se safarem desta?
(continua)
Estou esperando ansioso pela continuação. Será que a epidemia não veio mesmo? Abraço!
ResponderExcluirpois então....
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