o personagem da cabeça voadora do filme "as aventuras do Barão de Munchausen", do Monty Pithon |
Hoje na Austrália, ou seja, amanhã aqui (é isso mesmo?) meu
filho surge do nada do facebook pra cobrar que eu escreva historias da minha
cabeça no blog. Histórias de minha cabeça? Explico: quando eles eram crianças,
e isso não faz muito tempo (entre dez e quinze anos atrás) eles viviam me
pedindo pra contar historias na hora de dormir. No começo, eram umas historias
mais tradicionais, aquelas que fazem parte do inconsciente coletivo:
chapeuzinho vermelho, cinderela, Pedro e o Lobo, e outras quetais. Certas épocas
tinha que ser exatamente a mesma história toda santa noite. Quem é pai sabe da
manha.
Depois, eu tinha outras – tinha uns contos do Câmara Cascudo,
umas historias do Pedro Malazarte e coisas do gênero. Depois, ainda contei umas
que escutava quando criança que me contava meu tio Edilson Leal – parte câmara cascudo,
pare folclore baiano e outras que ele mesmo inventava, e que nós - eu minhas
irmãs e meus primos - adorávamos ouvir quando íamos pra casa dele nas férias.
Chegou um ponto, porem, que a fonte secou: como não
secar? Não dá, as sinapses são as mesmas,
não tem jeito mais! Aí eu um dia comecei
a inventar historias, mas no dia seguinte eu não me lembrava. Qual? Aquela, da
tua cabeça, me pediu um dia a Júlia.
Lembrei então de um filme do Monty Pithon, acho que foi “a
Maravilhosa Historia do Barão de Munchhausen”, em que tinha um personagem que
era só uma cabeça. Pronto. Contei a eles que a minha cabeça tinha se
desprendido do corpo – eu sou meio avoado mesmo – e ficou andando por ai. Eles me
olharam, desconfiados – o pai tá nos engrupindo. “Sim”, respondi, “vocês não
queriam a história da minha cabeça?”.
E assim foi. Um dia, minha cabeça chegava até a Lua, onde
meu pai sempre dizia que ela estava mesmo. Noutro dia, meu crânio voador descia
no fundo do oceano pra conversar com o Peixinho Vermelho, um Nemo do tempo
antigo, personagem de meu querido Edilson Leal. No outro, estava na mão de
gigantes que jogavam pingue pongue comigo. Teve alguns dias em que a cabeça
sonhou que ela era só uma cabeça que sonhava que era uma cabeça que sonhava... ”Pai,
deixa de enganar a gente e conta a historia!”, pediam Julia e Pedro, zangados
com a embromação. Historia pra dormir não é pra amadores...
Agora, uma cobrança via facebook – porque você não conta a
historia de sua cabeça? Bem que tentei responder: Porque tem o Departamento,
tem os alunos, tem as aulas... ”queremos historia de sua cabeça!” continuaram
me pedindo os dois, já bem marmanjinhos, no chat do tal do face. E ai? Nem sei. Achei que estava guardando historias de minha
cabeça pra próxima geração que está vindo por aí. Nem sei se ainda tenho sinapses
para tanto. Tem dias que eu só quero deitar no sofá e ficar ali parado, vendo
as moscas voarem pra lá e pra cá, sem fazer nada, sem pensar, sem tugir nem
mugir...
Julia e Pedro: não prometo nada. Minha cabeça vai pensar. Nos
tempos que correm já é muita coisa.
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