quinta-feira, 20 de março de 2014

HISTORIAS DE MINHA CABEÇA

o personagem da cabeça voadora do filme "as aventuras do Barão de Munchausen", do Monty Pithon
Hoje na Austrália, ou seja, amanhã aqui (é isso mesmo?) meu filho surge do nada do facebook pra cobrar que eu escreva historias da minha cabeça no blog. Histórias de minha cabeça? Explico: quando eles eram crianças, e isso não faz muito tempo (entre dez e quinze anos atrás) eles viviam me pedindo pra contar historias na hora de dormir. No começo, eram umas historias mais tradicionais, aquelas que fazem parte do inconsciente coletivo: chapeuzinho vermelho, cinderela, Pedro e o Lobo, e outras quetais. Certas épocas tinha que ser exatamente a mesma história toda santa noite. Quem é pai sabe da manha.
Depois, eu tinha outras – tinha uns contos do Câmara Cascudo, umas historias do Pedro Malazarte e coisas do gênero. Depois, ainda contei umas que escutava quando criança que me contava meu tio Edilson Leal – parte câmara cascudo, pare folclore baiano e outras que ele mesmo inventava, e que nós - eu minhas irmãs e meus primos - adorávamos ouvir quando íamos pra casa dele nas férias.
Chegou um ponto, porem, que a fonte secou: como não secar?  Não dá, as sinapses são as mesmas, não tem jeito mais!  Aí eu um dia comecei a inventar historias, mas no dia seguinte eu não me lembrava. Qual? Aquela, da tua cabeça, me pediu um dia a Júlia.
Lembrei então de um filme do Monty Pithon, acho que foi “a Maravilhosa Historia do Barão de Munchhausen”, em que tinha um personagem que era só uma cabeça. Pronto. Contei a eles que a minha cabeça tinha se desprendido do corpo – eu sou meio avoado mesmo – e ficou andando por ai. Eles me olharam, desconfiados – o pai tá nos engrupindo. “Sim”, respondi, “vocês não queriam a história da minha cabeça?”. 
E assim foi. Um dia, minha cabeça chegava até a Lua, onde meu pai sempre dizia que ela estava mesmo. Noutro dia, meu crânio voador descia no fundo do oceano pra conversar com o Peixinho Vermelho, um Nemo do tempo antigo, personagem de meu querido Edilson Leal. No outro, estava na mão de gigantes que jogavam pingue pongue comigo. Teve alguns dias em que a cabeça sonhou que ela era só uma cabeça que sonhava que era uma cabeça que sonhava... ”Pai, deixa de enganar a gente e conta a historia!”, pediam Julia e Pedro, zangados com a embromação. Historia pra dormir não é pra amadores...
Agora, uma cobrança via facebook – porque você não conta a historia de sua cabeça? Bem que tentei responder: Porque tem o Departamento, tem os alunos, tem as aulas... ”queremos historia de sua cabeça!” continuaram me pedindo os dois, já bem marmanjinhos, no chat do tal do face.  E ai? Nem sei.  Achei que estava guardando historias de minha cabeça pra próxima geração que está vindo por aí. Nem sei se ainda tenho sinapses para tanto. Tem dias que eu só quero deitar no sofá e ficar ali parado, vendo as moscas voarem pra lá e pra cá, sem fazer nada, sem pensar, sem tugir nem mugir...

Julia e Pedro: não prometo nada. Minha cabeça vai pensar. Nos tempos que correm já é muita coisa.

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