sábado, 5 de maio de 2018

O CAMINHO DE DAMASCO DA DEMOCRACIA


Estamos desmoronando? (tirei daqui)
Este está sendo um mês de maio de céu azul e um pouco de calor. O ar está seco. Não como fica em agosto ou setembro, mas está seco. As acerolas do fundo do quintal começam a rarear. Somente conseguimos algumas com muito esforço, nos galhos mais altos. Daqui a pouco, não haverá mais acerolas.
Estive doente um tempo. Segundo a médica que me atendeu, é uma sinusite. Foi então que entendi porque estava tão cansado, o ar tão difícil, a respiração difícil mesmo nos dias mais bonitos. Não é bonito estar doente.
Estive em viagem de campo quando vi as notícias do prédio que desabou. Mais uma tragédia causada por um estado desorganizado e pela criminalização da pobreza. Vi uma entrevista da urbanista Raquel Rolnik sobre o caso, criticando a política habitacional brasileira, causadora desta e de tantas tragédias.
Mas ninguém está nem aí para as tragédias. Parece que a engrenagem dos que querem ver sangue a todo custo começa a se movimentar. Os movimentos são previsíveis: 1) duas pessoas, ativistas que estavam no acampamento pró-Lulaem Curitiba são baleadas; 2) no mesmo acampamento, um delegado da policia federalinvade o acampamento e quebra equipamentos. A máquina de assustar e de matar, tão cara ao imaginário dos nossos homens de bem, está à solta. Com direito a palmas e likes.
Enquanto isso, nova tragédia se desenrola no centro velho de São Paulo. O movimento já é conhecido do caso Marielle: as redes começam a injuria “ad hominem” [injúria à pessoa, e não às suas ideias ou ações]: os ocupantes são bandidos, marginais, arruaceiros.
 Um dos mortos, Ricardo Oliveira Galvão Pinheiro, rapidamente aparece nas redes como membro do PCC, matador de policiais, tinha extensa ficha criminal e voltou ao prédio para recolher malas de dinheiro. Nada disso era verdade.
Será que as tragédias não podem ser vividas sem que tenham que ser ajustadas ao roteiro destes haters?
Entre os desabrigados existem muitas pessoas de bem, pessoas dignas. Mas, é claro, não se pode ver isso. Se estão brigando por seus direitos com as armas do movimento popular são logo “bandidos”. Não ganhar o suficiente para um aluguel, por mais barato que seja, é uma prova criminal. Uma ficha corrida.
Estamos bem. Já cruzamos diversas linhas. Em novembro de 2014 os atuais homens de bem, atendendo ao apelo de Aécio Neves, a quem hoje dizem que desprezam, começaram a obstruir e liquidar um governo legitimamente eleito. Hoje, não se sabe quem manda mais no país, se o Supremo, o Congresso, o pífio presidente traíra ou um juiz de primeira instância.
As linhas estão sendo cruzadas: não se respeitam eleições, não se respeitam leis, não se respeitam instituições. Não se respeitam adversários políticos. Um shopping de Londrina, cidade em que tenho família e que tanto gosto, abriga um stand de tiro cujos alvos são os ex-presidentes Lula e Dilma. Crianças aprendem a odiar. Sabemos o fim disso, não é, Adolfo?
Estamos em maio. O clima anuncia chuvas e trovoadas, apesar do tempo seco que se anuncia. O ódio se alastra. Pessoas de bem são mais uma vez usadas como bucha de canhão de interesses excusos. Alegremente, postam absurdos, xingam, desrespeitam. Por enquanto, e só por enquanto, alguns arriscam um tirinho aqui e ali.
É a democracia a brasileira encontrando seu caminho de Damasco?

2 comentários:

  1. O momento da nossa História que estamos vivendo já foi vivido por nós mesmos há alguns atrás e por outros povos também, em diferentes épocas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A questão, meu caro Edson, é se como farsa ou como tragédia

      Excluir