sábado, 19 de agosto de 2017

ANTONINA EM 1854 (parte 4)


Desembarque de passageiros no porto do Rio de Janeiro no século XIX. Imagine-se como era em Antonina...
A Villa Antonina estava animada em 1854, no início da emancipação da província. Eram vários os motivos para que os capelistas rissem à toa. A economia aumentava, pessoas começavam a antever um futuro melhor para os seus negócios. O principal motivo era que estava sendo desenvolvido, ainda que lentamente, um sistema de transporte de cabotagem baseado principalmente em navios a vela e que fazia a transição para navios movidos a carvão (ver mais detalhes aqui). Desde a Regência havia se iniciado uma incipiente navegação de cabotagem no Brasil. A Deitada-a-beira-do-mar era um dos pontos onde os navios atracavam.
Mas existiam vários problemas a serem resolvidos. Um deles era a falta de atracadouros. Não haviam locais bons para que passageiros e mercadorias pudessem desembarcar. Em 1858, o naturalista suíço Albert Tschudi (1818 -1889) assim descreveu o atracadouro:
Na baixa-mar, o desembarcadouro [de Antonina] é uma costa lamacenta muito traiçoeira; um dique de pedras nuas, nas quais há sempre o perigo de quebrar as pernas, não o torna nada melhor” (ver aqui).
Provavelmente o transporte de cargas e de pessoas era feito por pequenas canoas e chatas das embarcações até terra firme. Somente em 1865 o engenheiro Antônio Rebouças teve seu plano de construir uma ponte de embarque em Antonina aprovado. Não sabemos se teve sucesso ou se o atracadouro da cidade ainda teve que esperar ainda mais alguns anos (aqui).
Ainda em 1855 (ver aqui) o administrador interino da Mesa de Rendas, um dos órgãos ligados ao porto, estabelecia que o trabalho de embarque de mercadorias seria feito tão somente no lugar denominado Ponta da Pedra, no cais localizado em frente a rua Ypiranga (onde seria?). No regulamento (aqui) Pinheiro estabelece que todo aquele que “de algum ponto ou praia” se dirigirem ás embarcações terão as mercadorias apreendidas. Quanto contrabando deve ter passado....
Um relatório da Mesa de Rendas da Villa Antonina, publicada em novembro de 1854 (aqui), nos diz que, de maio a novembro, atracaram 29 embarcações no porto. Destes, 11 eram navios de pequena tonelagem, como lanchas, escunas ou iates. Estes barcos pequenos, movidos a vela, faziam transporte local, em geral para Santos, Iguape ou para os portos de Santa Catarina.
Os barcos médios, brigues ou patachos, alcançavam até 100 toneladas. Eram igualmente embarcações movidos a vela, com dois mastros e pequenas variações entre si na configuração das velas (Para diferenças, ver aqui) .  Estes veleiros faziam travessias maiores, tendo como destino Santos ou Rio de Janeiro.
As barcas eram os maiores navios. Também movidos a vento, tinham três mastros e as maiores tonelagens. O destaque no porto de Antonina naquele ano foi a barca Dianna, de 280 toneladas. Era cerca de dez vezes a tonelagem de uma escuna e ter vezes a de um brigue ou patacho. A Dianna transportou arroz, madeira e erva mate para o Rio de Janeiro.
As mercadorias, como vimos, eram produtos da terra, como arroz, madeira, telhas e cal. Por vezes, transportava-se também erva mate e farinha.
Outro destaque desta lista é o brigue Paranã. Era de Antonina, o que pressupõe um armador com porte suficiente para arcar com as despesas deste tipo de navio. Seu proprietário era Joaquim Leite Mendes. O brigue Paranã neste ano de 1854 fez duas viagens para o Rio de Janeiro, uma em maio e outra em outubro. Transportou para a Corte erva mate, madeira e arroz. Em janeiro de 1855 o Paranã publicou um artigo no Dezenove de Dezembro (aqui), em Curitiba, no qual anunciava ainda receber carga, além de oferecer “cômodos suficientes” para passageiros.
Um comercio incipiente começava a se fazer entre A Villa Antonina e a Capital. Com a chegada do conselheiro Zacarias a Estrada da Graciosa começava a ser reparada. Enfim a Graciosa deixaria de ser uma trilha de tropeiros para se tornar uma estrada carroçável. Em julho de 1855 foi expedida uma ordem (ver aqui) para o responsável pelas obras, o engenheiro Vilalva, a começar o calçamento de Curitiba até a borda do Campo e de Antonina até são João da Graciosa.
Oportunidades surgiam em todos os lados. Um comerciante capelista anuncia no jornal Dezenove de Dezembro (aqui) que dispunha armazenar e despachar cargas vindas do Rio de Janeiro para Curitiba. Diz que garante armazenagem por dois anos, com acondicionamento das mercadorias.
Outro comerciante capelista anuncia, em 1856 (aqui), a venda de terreno próximo ao mar, permitindo o acesso de embarcações e chatas. Segundo o anuncio, o terreno tem um excelente armazém construído com pedra e cal. Tem ainda um palacete construído de pedra, cal e excelentes madeiras, próxima do largo da matriz, com aprazível e elegante vista para o mar.
Neste mesmo anuncio se oferece também um armazém na Rua da Praia com 40 palmos de frente, com acomodações para família e negócio. O capitalista capelista prefere vender tudo, inclusive com escravos de ambos os sexos, a um só comprador.
Com escravos e tudo? E a gente ainda acha os nossos tempos estranhos...

4 comentários:

  1. Parabéns pelo excelente trabalho de pesquisa!!
    O anuncio de venda da propriedade com os escravos é bem chocante!

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  2. Esse levantamento é material precioso para ambientar um conto. Parabéns, Jeff!

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