Diversas vezes, enquanto estive lá, na China, as pessoas me
perguntavam de onde eu era. Quando eu respondia – “Brazil” – invariavelmente escutava logo em seguida: “World Cup?” ou “football?”. No aeroporto, em ônibus e no metrô, em Pequim e nas
outras cidades que visitei, eram comuns cartazes e outdoors falando algo do Brasil
por conta do mundial.
Houve só uma pessoa que se mostrou bem informada sobre nós:
um jovem, na Praça Tiananamen, corretamente se referiu ao Brasil e comentou e sobre
os protestos contra a copa. Mas foi só. Exceção, o rapazinho de Tiananmen parecia
alguém que já tinha viajado um pouco por aí. Os outros não demostravam o mesmo
conhecimento. Um colega, geólogo do serviço geológico, chegou a me perguntar se
o Brasil ficava na África. Outra pessoa, em outra circunstância, também me
perguntou o mesmo.
O que eu entendi é que os chineses não dão muita atenção pra
gente. Não o chinês médio, é claro. Afinal, a China é e sempre foi, para eles, o
centro do mundo. Antigamente, referiam-se à China antiga como o império do centro, ou o império do meio. O meio
do mundo. O umbigo é muito forte na concepção chinesa do mundo. O que fica de
nós pra eles é uma vaga lembrança de um país que gosta de jogar futebol e, além
disso, o país que está sediando a copa do mundo. Isso somos nós, para eles.
O exotismo de um país distante, tropical, onde as pessoas
gostam de jogar futebol parece ser a ideia que os chineses, e também o resto do
mundo, acabam tendo de nós. Claro que encontrei Croatas que zombaram dizendo
que iam ganhar da gente (sorry!), ou austríacos comentando sobre nossas
possibilidades no mundial, ou ainda argentinos secando a gente. Tudo isso é o
mundo. Vivíamos de TPM (tensão pré-mundial).
Hoje somos um país meio casmurro e muito mal humorado, em
que boa parte (e parte pensante) rejeita a Copa do Mundo. Rejeitamos mesmo a Copa
do Mundo? Sim, é um festival de breguices, de lugares comuns, de historias de
boleiros que só fazem sentido dentro das quatro linhas. Sem falar, é claro, dos
superfaturamentos, das obras de mobilidade inacabadas e outros quetais. O que
se percebe é que, talvez, nosso mau humor com a copa seja fazer com que as
pessoas lá na China entendam que nós somos muito mais que uns idiotas alegres de um país
tropical que sabem muito bem cobrar um escanteio (menos eu, perna-de-pau que
sou!).
Essa contradição entre o que somo s e como somos vistos,
acho eu, fazem parte de nosso momento. Acho que temos que relaxar um pouco
dessa postura mal humorada e entender que somos na verdade um pouco isso e um
pouco aquilo. Um pouco aquilo que projetamos ser – o tal país “padrão FIFA” que
emergiu das jornadas de junho – e um pouco o país que nos enxergam, os de fora:
a terra de boleiros que deixou de ser vira-latas há mais de cinquenta anos
atrás, com Pelé e Mané.
A propósito: para os chineses, somos o “Baxi”, o tal país
que é tão bom nesse negócio de colocar uma bola no gol que eles nos copiam e nos
emulam em seus comerciais e outdoors, como na figura acima. Nesta área, somos
nós a potência que todos um dia gostariam de ser. Se seremos potência nas
outras áreas, depende de nós mesmos, com ou sem mau humor...
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