sábado, 2 de fevereiro de 2013

SALVE DONA JANAINA!



(esta é uma postagem antiga, mas o sentimento é o mesmo...)


Hoje, dois de fevereiro, é dia de saudar Iemanjá, Dona Janaína, a Rainha do Mar. Envolvido em coisas torpes e mesquinhas, gastei todo o meu tempo livre em coisas produtivas e interessantes para o futuro do Brasil. Mas, esqueci da santa, de ir num laguinho e jogar alguma coisa pra ela. Uma coisinha qualquer, assim com um barquinho de madeira com velas, uma melancia, um ramo de flores meio murchas que estão precisando de água. Mas iemanjá me entende (eu acho), apesar do crime ambiental envolvido em seu culto.
Claro que cultuar Iemanjá não foi um habito que aprendi na minha infância, na Deitada-a-beira-do-mar de antanho. A Antonina de outrora, um lugar pacato e feliz, onde os padres eram americanos, tinham buldogues e tudo era pecado. Televisão? Pecado! Falar palavrão? Pecado! Faltar na missa? Pecado! Desejar o mal daquele filhodaputa que vivia te azucrinando e te perseguindo no recreio? Pecado! As meninas de mini-saia? Pecado! Pecado! Olhar por baixo da saia das meninas? Pecado mortal!
Como então aquela santa maravilhosa, de vestido azul saindo das águas não seria também pecado? Bela, sensual, arrastando os homens para as profundezas do mar, como não amar Iemanjá? Como não amar aquela vontade de afundar naquele mar de desejos que estava na nossa frente, e que aqueles padres americanos sem-batina (oh pecado!) nos proibiam – secundados por um sem-fim de velhas carolas – nos ameaçando com o mais terrível dos infernos? Como amar, como desejar?
Claro que isso são bobagens que se desfazem quando você desce na rodoviária de São Paulo, a antiga Julio Prestes, cheia de gente de tudo que é canto do Brasil. Ali, aquela balburdia de gente, de cores e cheiros diferentes, de sotaques diferentes, jeitos diferentes e desejos nem sempre iguais, você acaba por sentir que o sermão do padre de Antonina não fazia sentido. Coitado do padre, só entendia de cuidar do buldogue dele, que só entendia ordens em inglês. Bom mesmo era o vento do mar quando saiamos da missa na matriz, olhar se a maré estava cheia ou vazia, ou se tinha navio no porto.
A Antonina de hoje eu estou conhecendo e aprendendo a conhecer. Hoje conheço bem os morros, conheço algumas pessoas e algumas comunidades que nem sequer sonhava em conhecer nos meus tempos de guri. Na prática, é a mesma coisa. Antonina continua com suas idiossincrasias (no popular: com seu “jeitão”), só que atualizado aos tempos do celular internet e Ipad. Uma cidade que tem na primeira divisão do futebol times como “Real Madruga”, “Zorba no Rego” ou “Sovaco da Cobra” é um lugar de uma idiossincrasia bem idiossincrática. Hum...deche...
Iemanjá veio depois na minha vida, na Bahia, em Santa Catarina, no Rio de Janeiro, e nos outros lugares que andei. Embora não-crente, procuro respeitar o credo dos outros. Acho bonito a pessoa crer em algo, eu que creio em coisas risíveis, como igualdade-liberdade-fraternidade, democracia, socialismo. Hoje não entendo mais direito essa coisa de crer, mas acho bonito quem acredita em algo, acredita nos deuses, ou no Deus, contanto que não queira sair por aí queimando hereges (como eu) ou explodindo embaixadas. E acho bonito o culto a essa deusa feminina e caprichosa que nos ama e que quer nos quer destruir. Assim são as mulheres. Viva o dois de fevereiro. 

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