segunda-feira, 13 de agosto de 2012

UMA CONTA SALGADA...


(Bigg-Whiter e seus companheiros pedem a conta do Hotel....que surpresa!)

(...)
Pedimos ao Sr Pascoal a extração de nossa conta para logo e, por varias horas, ficou ele sentado à cabeceira da longa mesa da sala de jantar (a mesma em que eu dormira parte da noite no dia de chegada à Antonina), absorto com as somas e os cálculos, cercado de tinteiros, canetas e longas tiras de papel. Evidentemente, a preparação de conta tão grande era um acontecimento na vida de nosso hoteleiro.
Quando por fim a conta foi apresentada, não nos admiramos mais do tempo que ele havia gasto à mesa.
Segundo as contas do Sr Pascoal, nós e os nossos convidados havíamos consumido trezentas garrafas de cerveja em três dias. Supondo-se mesmo que quarenta garrafas tivessem sido dadas de vez em quando aos carregadores, o nosso consumo por pessoa e por dia era de nove garrafas de cerveja!
Infelizmente, nenhum de nós teve a ideia de contar ou anotar a quantidade gasta. Ele nos garantia, fazendo gestos suplicantes de inocência ofendida, que havia anotado cada garrafa pedida, do que não duvidamos, mas depois, certamente, multiplicou o total por três, como havia feito “Madame”, no hotel “Ravot”, no Rio de Janeiro. Quanto às outras rubricas a conta foi bem razoável, porque a comida era boa e havia fartura. Era muito melhor do que a que vínhamos comendo nas últimas cinco semanas. Resolvemos admitir que as contas do Sr Pascoal estivessem corretas e pagamos o total.
(...)
Na manhã seguinte, cedo, apareceram duas carroças à porta para nós, puxadas cada uma por cinco dos pequenos cavalos da região. Três bestas de sela as acompanhavam; uma para o tropeiro, que seria o guia interprete e camarada, e as outras duas para o Capitao Palm e Curling (chefe do II grupo) que preferiram ir montados, porque ficavam mais à vontade.
A parte do material que ficara pusemo-lo nas carroças e entramos para nos despedir do dono do hotel. A despedida foi muito afetuosa. Se foram as nossas boas qualidades ou a maneira afável que pagamos a extensa conta, que lhe conquistaram o coração, não me atrevo a dizer. Mas o certo é que ele nos abraçou um por um repetidas vezes e com lagrimas nos olhos, desejando a todos nos muitas felicidades e breve regresso diante dos perigos a nossa frente e pedindo que não nos esquecêssemos dele. Quanto a mim , garanto que não esqueci. Todas as vezes que via uma garrafa de cerveja era o bastante para que ele viesse a minha lembrança muitos meses depois. 

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