sexta-feira, 12 de agosto de 2011

SEM PERDER A TERNURA JAMAIS


Eis que chega, a galope, o segundo domingo de agosto. Depois do dia das mães, do dia dos namorados e antes do dia das crianças, vem o famigerado dia dos pais. É uma data complicada, bem no meio do ano, num mês de cinco semanas, trinta e um dias e, pra piorar, mês de cachorro louco. Foi o mês do suicídio de Getulio e da renuncia de Jânio. Mês brabo, traiçoeiro. Em Antonina, é uma neblina só. Às vezes, que me lembro, limpava o tempo lá pelas duas da tarde. Lembro meu querido professor Zezo, aliás uma das maiores figuras de minha vida, que brincava quando via que a gente não tinha entendido a formula de báskara ou outra equação qualquer: “Tá com cara de neblina de agosto!”.

Quando eu ligava pro meu pai pra felicitá-lo pelo dia, este sempre me devolvia, debochado: “dia dos pais é todo dia!”. Mas não ligasse pra ver a encrenca que dava! Já comentei diversas vezes o quanto não entendia meu pai, e o quanto mais o entendi quanto mais fundo entrei neste estranho ramo, o da paternidade. Em primeiro lugar, pai é básico. Tem que falar o mais simples, o mais direto, o mais chato. Não interessa se você gosta ou não, o pai tem que dizer e você têm que ouvir. Faz parte, como diria o filósofo.

Meu pai tinha um jeito meio distante de nos tratar. Guardava certa formalidade, certa rispidez, um jeito meio sem jeito. Quando virei pai, me descobri também um pouco assim, formal e distante. Sim, a fruta nunca cai longe do pé. Não exigia que meus filhos me chamassem de Senhor e não de você, como meu pai exigia. Mas faltava algo, faltava um elo, e aquilo me incomodava. Demorei pra entender que meu pai era tão tímido e reservado quanto eu, e que o jeito distante e sem carinho era só o jeito dele, não era falta de amor. Era um amor simples, de pai amoroso e meio sem jeito de demonstrar o amor incondicional que ele nos devotava.

Alem de meu pai, sempre tive outras grandes figuras masculinas em minha vida, às quais também devo muito de minha maneira de ser e pensar (embora o que eu pense e faça, principalmente o que faço de torto e de errado na vida não tenha nada a ver com nenhum deles). O professor Zezo foi um deles. Meu avô materno, Seu Otavio Lima. Meus tios Edilson Leal, Edmilson Dahle, Fausto Lima, Milton Picanço... a lista é grande e eu paro por aqui, certo de ter cometido alguma injustiça com muitos que não citei.

Por outro lado, agora um profissional do ramo – em setembro deste ano faz 21 anos que eu entrei na função paterna – eu acho que tive alguns acertos, entre os muitos erros que a gente sempre comete, incondicionalmente. E admiro alguns amigos que são pais, confesso que sempre procuro imitar o que aprendo. Meu amigo Eduardo Pasko, grande geólogo hoje trabalhando no Tocantins, é um desses. Eu admirava – e invejava, por que não? – a facilidade que ele tinha (e tem) em conversar com os três filhos, em mostrar claramente o que ele queria, o que ele estava sentindo. Era pai e também era amigo, de um jeito que só se entende vendo, e que só se aprende fazendo. Por outro lado, eu sentia nos filhos dele pessoas que cresciam bem, amparadas e protegidas, nem que fosse só emocionalmente. Apesar de não conhecer pessoalmente o Cequinel, inenarrável impagável e imprestável diretor presidente das organizações Ornitorrinco, vejo nas suas manifestações na gloriosa blogosfera capelista um pouco desse desassombro de criar gente neste mundo às vezes tão bom, às vezes tão cruel e intolerante.

Por que é isso: aquelas criaturinhas bonitinhas, fofinhas e engraçadinhas crescem, criam espinhas, encorpam e vão viver suas vidas. Vidas que não pertencem a mais ninguém, eles estão sozinhos no mundo, assim como nós e nossos pais também estivemos até hoje. Filhos vêm sem manual do fabricante, são uma aventura ingrata e inglória, sem nenhuma recompensa a não ser a vida mesmo, os gens ali, se replicando, sem explicação maior. Não há explicação maior para a vida, pelo menos eu acredito nisso. Ser pai é ser duro, mas sem jamais perder a ternura, como diria o Che, ele mesmo um pai ausente, mas presente aos seus próprios filhos em termos de exemplo e carinhosa lembrança.




2 comentários:

  1. Sua frase "...e o quanto mais o entendi quanto mais fundo entrei neste estranho ramo, o da paternidade", fez-me lembrar de meu próprio pai, Maury Cequinel, ainda vivo, especialmente de dois acontecimentos.

    1. Em 1988, maio, houve uma greve nacional dos trabalhadores em empresas estatais e, aqui no Paraná, eu e mais 9 petroleiros fomos demitidos). Creio que uns quinze dias depois, eu no sindicato na faina amalucada daqueles tempos, e o velho Maury me telefona e, bem do jeitão seco e duro dele, disse que tinha muito orgulho do que eu fazia e que ficaria muito puto dentro das calças se eu e minha família passássemos dificuldades sem falarmos com ele. Jeff, meu caro, aos 36 anos e com dois filhos, creio ter compreendido o significado completo da paternidade, para mim o proteger a prole no limite das nossas forças, sempre e para sempre.

    2. Em fins dos anos 90, meus filhos mais velhos já adolescentes, não sei bem porque descobri que eduquei e me relacionei com eles de um jeito muito semelhante ao do meu pai, inclusive nos modos severos e secos. E pensei que se o velho Maury criou e educou 7 filhos e os fez, todos, homens e mulheres decentes, honestos, bem, no geral eu mesmo estava no caminho certo. Tive imenso orgulho, de descobrir-me muito parecido com meu pai.

    Belo texto, meu caro, belo texto.

    Os nossos velhos merecem.

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  2. Pois é, na hora que a gente mais precisa, eles estão lá, nem que seja só pra te dar um abraço, ou falar a coisa certa. Queria ser assim quando crescer....
    Abraços, Cequinel!!

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