Karl Von Koseritz (1830-1890) |
Cerca de 10 horas e surgiu à vista a pequena cidade de Antonina.
Como num cenário levantavam-se dos dois lados, principalmente do direito, as
cadeias de montanhas e a vista é das mais imponentes que já conheci,
absolutamente uma paisagem suíça. Assim como a estrada do Paraná é
absolutamente uma estrada suíça. Eram 10 horas e nós estávamos justamente
sentados para almoçar, quando a ancora caiu no belo porto de Antonina que é
livre de qualquer obstáculo.
Se eu não soubesse que o Brasil é incompreensível
eu acharia estranho que a estrada não tivesse partido de Antonina, em vez de Paranaguá,
para Morretes e etc. em todo caso Antonina é a localidade de maior futuro e só
a falta de estrada de ferro poderá deixá-la para trás. A competição que existe
entre Antonina e Paranaguá é semelhante à que existe entre Pelotas e Rio
Grande. Para Paranaguá – como para Rio Grande – foi levada uma absurda estrada
de ferro, e Antonina se queixa,- como Pelotas, - do fato de não possuir uma
alfândega. Sempre há aqui uma diferença: Pelotas ganhou aos senhores de Rio
Grande uma mesa de rendas alfandegada. Desci em Antonina com o amigo Rosch, que
tinha um conhecimento da terra igual ao que já demonstrara sobre a estrada do Paraná.
Antonina tem um bonito cais e é uma gentil cidadezinha, não completamente
limpa, mas, em todo caso, mais limpa do que Porto Alegre. O pior estado
sanitário é devido à extraordinária extensão das marés; a maré baixa deixa
muitas quadras cobertas de lama. Sobre a qual queima um forte sol; está claro
que aí não deverão faltar os miasmas.
Coisa inesperada para mim foi a
existência de ruínas quase românticas, velhos panos de muro cobertos pela
vegetação, que devem restar do tempo das primeiras habitações. Grandes
quantidades de urubus pousavam sobre quase todos os tetos ou passeavam nas
ruas, como, entre nós, as pombas. Logo chegamos à hospedaria da velha Rosskamm,
aquela casa que todos os alemães do Paraná conhecem. Lá nos deliciamos com a
excelente cerveja nacional de Morretes, que o amigo Rosch pretende ser o único
preservativo contra a febre palustre, e estivemos em animada conversação com os
outros passageiros desembarcados.
Eu esperava atravessar Antonina incógnito,
mas não pôde ser, porque apenas a velha Sra. Rosskamm ouviu o meu nome na nossa
conversa, dirigiu-se a mim perguntando: “o
senhor é o Koseritz, cujo calendário e cujo jornal possuo?”. O incógnito
tinha ido por água abaixo e não seria utilizado mais tarde,pois pouco depois,
quando passeávamos pela calçada irregular, entre ruínas e urubus, aproximou-se
um dos sólidos carros que viajavam até Curitiba e desde longe, de dentro dele,
o coronel Schuster-Schutz lançou-me um cordial “seja bem-vindo”. Voltamos com ele à casa da Sra. Rosskamm e passei
uma hora com o velho e caro amigo, que se tinha curado de uma febre de 13 meses,
contraída na colocação de telégrafos no Paraná. Schuster-Schutz envelheceu, mas
conserva fiel sua raça de outros tempos e é sem duvida um homem que prestou ao Brasil
os maiores serviços. Ele colocou quase toda a rede telegráfica do império.
Pelas 4 horas nos despedimos da sra. Rosskamm e regressamos para bordo.
Na
volta pela praia vimos uma coisa extraordinária: quatro gigantescas rodas que
um talentoso engenheiro fez construir há tempos para, com seu auxílio,
conseguir transporte através da serra! Lá estão elas, apoiadas numa ruína,
antigo e triste testemunho da insensatez dos homens, que a tornou inúteis e
vencidas. As rodas gigantes são sem duvida a coisa mais notável de Antonina.
Quando chegamos a bordo o exército vitorioso já tinha embarcado, com exceção do
comandante e seu estado maior. Mas lá vêm eles, numa barca militar
embandeirada, com enormes bouquets de flores nas direitas possantes, e com
flores em todas as casas de botões. Como se vê, Antonina honrou os “bravos
vencedores” de Curitiba. Assim que o leal Eneias chegou a bordo com seu estado
maior, largamos e breve estávamos de novo diante de Paranaguá, onde recebi a
comunicação telegráfica de que o ministro Ávila nos aguardava desde o dia anterior
em Santos. Chegou-nos, por cima, a bordo, ainda uma companhia de artistas
cavaleiros, com seus cavalos magros e não menos magras raparigas e, ao cair da
tarde, passamos, repletos, pela barra de Paranaguá, diante da alta ilha e do
belo farol, com a agradável certeza de termos a bordo pelo menos 600 passageiros.
Bordo do “Rio de Janeiro”, 16 de abril de 1883.
Magistral! vou guardar.
ResponderExcluirà vontade, meu caro, aqui você não pede, você manda...
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