o Farol da Ilha do Mel em 2062, submerso por causa do aquecimento global |
Estamos no ano de 2062. Com o aquecimento global, o nível dos oceanos subiu
três metros em todo o planeta. Com isso, amplos trechos da cidade ficaram
submersos. Sobrou a colina da matriz, transformada de novo em ilhazinha batida
pelas ondas, e o morro do Bom Brinquedo, que virou ilha do Bom Brinquedo. Os
bairros ficam isolados, as pessoas não têm como se mover, não há barcos pra
todos. O caos se instala. Não há alternativa, pensam os habitantes, a cidade
vai ter que se mudar. Pra onde?
Existe um lugar, apontam os técnicos do governo do estado, é
a região de São Joãozinho Feliz. Lá deve se localizar a Nova Antonina, distante
da velha Antonina tão cheia de pecados e agora tragada pelas aguas do
aquecimento global, como foi previsto pelos profetas do inicio do século XXI. É
uma nova oportunidade de zerar tudo e começar de novo, sem os erros do passado.
Ótimo, diz a prefeita
da época, vamos desapropriar essa área e vamos construir a nova cidade. Todos
ficam felizes com sua determinação. O Governador vai até lá de helicóptero,
abraça e beija as criancinhas e diz que vai mandar dinheiro. O Ministro também
prometeu liberar as burras da administração federal pra salvar a cidade submersa.
Mas, há empecilhos: alguns proprietários querem se livrar
logo de suas terras, outros elevam o preço até as alturas. O dinheiro não
chega, não chega, e, quando chega, é um terço do dinheiro inicialmente
previsto. Há que se fazer licitações para construção das ruas e das casas. As
licitações são lentas, pois desde o inicio do século pioraram muito as leis de
licitação para evitar a corrupção politica. Somente empresas marcianas de
ilibada reputação se candidatam.
Onde vão ser as casas? Quem vai ter acesso a elas? Nesse momento, a elite da cidade, que ninguém
achava que existia, toma a frente e requer os melhores lugares. Depois, a
classe média e, por fim, o povão ocupa o que sobrou, ou seja, alto de morro,
beira de rio, locais de mangue. O terreno todo é ocupado, alguns proprietários
são indenizados, de preferencia os amigos da prefeita ou do deputado amigo da
prefeita. Os outros que se virem. A oposição reclama, os blogs reclamam, mas a
caravana passa. A nova Antonina inicia as obras de sua refundação.
Quando os operários executam a primeira sondagem, um cheiro ruim
invade a área. Mulheres desmaiam, crianças choram, e um cheiro de ovo podre
toma conta do ar. Um velhinho bem velhinho se lembra de que era ali, naquele
lugar, que no século XX e começo do XXI onde os capelistas jogavam seu lixo. O
terreno mole começa a afundar, engolindo a super-escavadeira recém-comprada
pela prefeitura, tragada pelo solo colapsível do lixão, ops! Aterro Sanitário.
Em meio ao caos que se forma, alguém pergunta pra prefeita o
que fazer. Atarantada, como todos por ali, a alcaidessa olha em redor e grita:
“vamos pra Morretes! Eu já moro lá e é
pra lá que nós vamos!” A multidão começa a pegar suas tralhas e uma longa
peregrinação começa pela estrada do Sapitanduva em direção à terra de Rocha
Pombo. Os anônimos dos blogs não vão ter mais do que reclamar, pois alcançamos
finalmente Morretes, a perfeição na Terra. Lá não jorra leite e mel, mas é mais
limpinha, organizada e tem emprego nos restaurantes. Que não haja medo do
futuro nem saudade do passado: ao virar a última curva, onde ainda se avistam
as ruínas de uma antiga cidade deitada embaixo do mar, que ninguém olhe para
trás, por via das dúvidas.
1. A expressão "solo colapsível" deveria ser reservada para uso apenas em cadeia nacional de ráido e TV e não nestes nossos bloguezinhos mequetrefes.
ResponderExcluir2. De todo modo, proclamo que se estiver de posse de minhas (limitadas) faculdades, diante do chamado de Munira Dirty File Peluso, dou um jeito de subir no mirante da pedra e de lá haverei de lançar-me feito um kamikaze sobre a matriz inútil, para desespero do padreco.
em 2062 é melhor usar golfinhos treinados pra fazer isso...
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