A vista da cidade de Antonina a partir da igreja de Nossa Senhora do Pilar, onde foi rezada a missa de agradecimento pelo bom fim da aventura dos rapazes. |
Era uma segunda feira de
quaresma, e a igreja matriz de Antonina estava cheia.
Parecia que era festa de
agosto, a igreja lotada de gente, o burburinho tomando conta do átrio e
ressoando pela nave da matriz. Era um dia de festa e regozijo. As oito horas da
noite do dia 9 de março de 1942 o padre Leonardo Starzinski rezou uma missa em
homenagem aos cinco escoteiros.
Fazia sete anos que o padre
Leonardo estava ali na paroquia. Iniciara seu vicariato em 1936, substituindo o
enérgico padre Bernardo Peirick, que havia feito muitas reformas na matriz, que
ainda hoje guardam seu estilo.
Padre Leonardo, ao contrário de padre Bernardo,
eram um catequizador. Naquela noite na missa noturna, esperando pelo seu
sermão, havia paroquianos especiais: os cinco rapazes recém-chegados de sua
jornada a pé ao Rio de Janeiro.
Para o sermão, escolheu alguns
trechos selecionados do Êxodo, falando das agruras sofridas pelos judeus em sua
busca pela Terra Santa. Os sacrifícios, os descaminhos, as incertezas, tudo
isso foi citado em seu sermão. Os rapazes escutaram tudo com atenção e devoção.
Ao encerrar, padre Leonardo pediu a Deus para que os rapazes seguissem sempre
os caminhos do Bem. E ressaltou que o seu feito servisse de modelo para as
gerações de escoteiros do futuro, como anotou Lydio Cabrera em seu diário.
A aventura chegara ao fim. Depois
das festividades da volta, houve ainda diversas atividades sociais a cumprir.
Lydio nos conta que, no dia seguinte à chegada, aceitara tomar um chá na casa
da Profª Assíria Linhares, onde contou um pouco de sua experiência à velha
mestra.
À tarde, os cinco rapazes foram visitar o capitão Custodio Raposo Neto,
Prefeito Municipal, junto a outras autoridades, conforme anotou Lydio. Depois,
ainda deram uma entrevista para o jornalista João da Cruz Leite, editor do
Jornal de Antonina. Já estava de noite quando saíram de lá.
Mas as festividades prosseguiam:
ainda nesta noite houve um jantar de confraternização na casa do Chefe Picanço.
Lá, em volta da mesa, seu Manequinho fez um pequeno discurso, dizendo-se muito
satisfeito com o feito dos cinco rapazes.
Ressaltou que os esforços e a força
de vontade de cada um haviam contribuído para o sucesso da missão. Eles eram,
para seu Maneco, o orgulho do escotismo antoninense. Talvez, frisou o chefe, um
feito desta envergadura nunca mais viesse a ser repetido no escotismo brasileiro.
Na reunião da noite, na Caserna
dos Escoteiros, houve ainda uma Sessão Cívica. A bandeirante Araildes Horibe
saudou os rapazes, finalizando com estas palavras: “os vossos nomes serão
gravados na História de Antonina e com letras de ouro, no livro desta
Associação, como os milionários dos quilômetros”.
O Chefe Beto, agradecendo as
palavras da Bandeirante Escoteira, disse que, “se fosse preciso, eles o fariam
novamente, e com grande satisfação”. Ao final, a banda musical da tropa
escoteira começou a tocar um dobrado, aumentando a alegria da festa. Com todos
eufóricos cantando o Hino Nacional, a sessão foi finalmente encerrada. A missão
havia acabado.
Ao sair da igreja aquele dia,
sentindo o vento fresco vindo do mar, os cinco rapazes não sabiam do que a vida
ia fazer deles. Cada um voltou a suas casas, a suas famílias, e cada um viveu
suas vidas como puderam. Os meninos, durante toda sua vida, foram intensamente
homenageados na cidade, onde viraram nome de rua, e onde sempre foram convidados
a contar os detalhes de sua aventura.
Sua missão não foi jamais
esquecida. Hoje, mais de 70 anos, os valentes e ingênuos rapazes da Capela
ainda povoam as nossas mentes. Não há antoninense que não saiba, ao menos por
cima, sobre a sua expedição. Alguns os chamam de heróis.
Outros, de loucos.
Outros, ainda, acham que seu sacrifício valeu somente para um bando de
políticos aproveitadores. Muito embora o significado verdadeiro de sua jornada
se tenha perdido no tempo e nas memorias de quem a viveu, o feito ainda impressiona.
Não há como não se impressionar
com cinco rapazes perdidos no mundo para entregar uma carta ao presidente. A
carta em si não significou muito, mas a jornada colocou Antonina no mapa. Isto
não é pouco.
Fechou com chave de ouro. Parabéns!
ResponderExcluirMuito obrigado, Edson.
ExcluirEu quero prestar uma homenagem a voce também, que esteve passo a passo comigo nesta estrada, lendo amorosamente e me dando forças pra seguir adiante.
Voce é, com toda a justiça, um dos coautores deste texto!!
Muito obrigado, meu querido!