quinta-feira, 5 de março de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 83: A CHEGADA TRIUNFAL


A chegada da tropa escoteira em Antonina depois de um Encontro em Joinville. Como seria a recepção dos rapazes na madrugada de 4 para 5 de março de 1942?
(Estamos no mês de março de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 5 de março de 1942, Beto, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca), Milton e Lydio, estão chegando em casa, finalmente! E a recepção, como seria?)

Era já noite, no dia 4 de março de 1942, quando o navio finalmente chegou. Os rapazes iam acompanhando a lenta e segura manobra do navio para atracar no porto de Paranaguá naquela noite fresca e úmida de fim de verão. 

No cais, os meninos foram recebidos pelo chefe dos escoteiros de Antonina, Maneco Picanço, e por alguns antoninenses que moravam na cidade. Foi uma grande festa. Um momento de muita emoção e alegria ver o chefe Manequinho e seus amigos ali esperando por eles no porto. 

Mas tinha mais. Eles foram informados que toda a cidade estava esperando por eles naquela noite, e iria ter festa nem que fosse de madrugada. 

Um Ford V8 preto estava ali, esperando para levar os rapazes de volta para casa. Seria a última viagem até Antonina, a Doce Antonina, de onde haviam partido em dezembro para uma viagem a pé de 1.250 quilômetros. 

E que viagem. Na certa, os rapazes que agora chegavam não eram os mesmos que haviam partido. Praticamente dois meses de muito sacrifício e de muita novidade, quem ali chegava eram cinco rapazes que conheciam muito mais do mundo. Os meninos voltavam homens. 

O motorista do Ford foi encher o tanque nas imediações. Aquela era uma tarefa bastante complicada naqueles tempos. A gasolina estava racionada em tempos de guerra. Além disso, já era tarde da noite na cidade, com poucos lugares abertos. 

Demorou quase duas horas para voltar com o tanque cheio. De tanque cheio também estavam os rapazes, levados pelo Chefe para fazer uma boquinha antes da última viagem. Era o último lanche que eles comeriam fora de casa. Famintos da viagem, mas ainda lembrando das iguarias que eles comeram no navio, os rapazes comeram bem para aguentar a viagem até Antonina. 

O Ford deixou Paranaguá as 22:00 horas. Eles passaram pela vila de Morretes depois de quase duas horas de viagem. Depois, o carro foi até Porto de cima e seguiram para São João da Graciosa, no entroncamento da Estrada da Graciosa, onde pararam para descansar.  Era esse o caminho da época.

Em São João da Graciosa estava esperando por eles o Sr Nicolau Cecyn, em seu Ford verde, para acompanhá-los no trecho final. Depois de cumprimentar os rapazes, o agora comboio seguiu em frente rumo a Antonina. 

No quilometro 8 da Estrada da Graciosa o comboio encontrou o delegado de polícia de Antonina, o Sr Penny Withers. Não, não era pra prende-los. Era só o que faltava! O delegado estava ali esperando para dar a boa vinda aos rapazes, em nome do prefeito, Capitão Custodio Afonso Neto. 

Quando a caravana chefiada pelo Ford Preto cruzou a Avenida Thiago Peixoto, os foguetes começaram. Era na madrugada do dia 5 de março de 1942. Segundo Lydio, o espetáculo pirotécnico era indescritível. Essa a palavra que ele usou em seu diário. 

Indescritível. Foguetes e morteiros estouravam sem cessar, anota ele. Os carros só pararam, em meio ao foguetório, depois do portal da cidade, próximo do pátio da Estação Ferroviária. Ali, eles desceram para cumprimentar a grande multidão que ali estava. Todos queriam cumprimentar os rapazes, dando-lhes beijos e abraços. 

Como Lydio anotou em seu diário, teve início um grande desfile escoteiro nas ruas de Antonina. Este desfile, impensável para muitos, durou parte da madrugada, que só terminou na Caserna da Tropa Valle Porto. O desfile foi, é claro, acompanhado por grande massa de pessoas. Volta e meia, estourava um foguete perdido, para horros dos cachorros da época. 

Ali, na caserna dos Escoteiros da Tropa Vale Porto, finalmente, os rapazes da Patrulha Touro foram dispensados de sua missão e puderam ir para suas casas. Quanta felicidade!

Ao chegar em casa, com sua família, Lydio conta que estava muito excitado para dormir. Estava cansado, com fome, mas sem sono, querendo desesperadamente falar. Sua mãe, dona Nathalia, foi fazer um café. Enquanto isso, Lydio contava para seu pai alguns dos detalhes da viagem. 

Eram 4 da manhã quando finalmente conseguiu pegar no sono. Segundo conta, demorou pra dormir porque ainda sentia falta do balanço do navio. Ainda excitado com a recepção, ele fechava os olhos e tentava reter na memória tudo o que havia acontecido naquela memorável madrugada. 

A aventura ia chegando ao fim. Mas ainda tinha mais!!

2 comentários:

  1. Por um momento, estive em Antonina, como parte da multidão que saudava os valorosos escoteiros.

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