domingo, 2 de fevereiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 52: PASSEANDO COM JOÃO ABAJUR


Atracadouro na Praça Mauá, no Rio, em 1930
(Estamos no mês de fevereiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 2 de fevereiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) continuam angustiados no Albergue da Boa Vontade, na Zona Portuária do Rio. Será que alguma coisa vai mudar?)

No dia seguinte, as coisas começaram a melhorar, no Rio de Janeiro, para os cinco escoteiros antoninenses. A vida no Albergue da Boa Vontade seguia no mesmo padrão de sempre. Naquele dia, 2 de fevereiro de 1942, era também o dia de Iemanjá, a Rainha do Mar. Dia de saudar Dona Janaína. 

Mas os rapazes não fizeram nada disso. Depois de serem acordados com o barulho dos funcionários do Albergue da Boa Vontade, arrumado as camas, metidos em filas, depois do café Milton, Lydio, Canário e Manduca conseguiram finalmente ter permissão para sair. Chefe Beto ainda estava de quarentena no Albergue por causa de uma sarna.

Para os que conseguiram sair, que alegria!!

Eles saíram como loucos a conhecer o cais do porto. Ali era o centro da zona portuária do Rio de Janeiro, cheia de locais bastante significativos. A Gamboa, onde eles estavam, era um dos bairros mais antigos do Rio de Janeiro. Durante os séculos XVIII e XIX ali foi área de moradia da elite carioca, com belos palacetes e pequenas chácaras. No fim do século XIX esta população começa a migrar para os bairros mais a sul, como Catete, Gloria, Botafogo e Laranjeiras. A velha Gamboa foi perdendo seu status. 

Nesta região também nasceram as primeiras rodas de samba. Nos morros e nas praças das redondezas, o batuque começou a se fazer sentir nas primeiras décadas do século XX. Ali, ao redor da Pedra do Sal, nas proximidades da praça Mauá, havia rodas de samba muito animadas. Dali os sambistas se reuniam e rumavam para a Praça Onze, o tradicional ponto de samba dos inícios do século XX no Rio de Janeiro. 

Para o lado do centro, nos lados da Saúde, havia o cais do Valongo. Ali foi um dos maiores portos escravistas da humanidade. Eterna vergonha nacional. Os rapazes não sabiam, mas ali perto estava o Cemitério dos Pretos Novos. Era o local de quarentena dos escravizados que chegavam de suas longas viagens nos terríveis navios tumbeiros. Muitos dos que morriam logo ao chegar eram enterrados ali. Horror dos horrores, como foi toda a escravidão. Descoberto no início deste século, hoje há ali, o Circuito Histórico e Arqueológico da Herança Africana. Triste porto do Rio de Janeiro... 

Mas os rapazes não queriam saber disso. Eles foram ao cais passear. Lá, encontraram um conhecido, o João Abajur. Figuraça devia ser o João Abajur. Abajur foi o guia dos quatro rapazes  pelos quatro quilômetros do cais. Lá, eles passearam desde os terminais de inflamáveis até os terminais de embarque de café. 

Mas o que impressionou os rapazes foram os navios mercantes ingleses e americanos ali no porto. Todos eles estavam armados com canhões de proa e de popa, a fim de se protegerem dos perigosíssimos submarinos U2 alemães. 

De volta para o albergue, os rapazes receberam uma visita que mudou a sorte deles. O Dr João Ribeiro dos Santos, da UEB, foi lá e constatou a situação dos rapazes ali no Albergue da Boa Vontade. E determinou que eles, a partir daquele momento, fizessem suas refeições no quartel do 5º BC da Força Pública, do outro lado da rua. 

No quartel, devidamente alimentados e fardados, eles se encontraram novamente com o general Heitor Borges. Desta vez, vendo-os em melhor condição, o general mostrou-se contente e felicitou os escoteiros. 

De volta ao albergue, nada mudou: além do esquema de fichamento, banho frio e tudo o mais, os rapazes ainda tiveram que tirar fotos de frente e de perfil para o fotografo oficial do Albergue. 

Que dureza!

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Pois então Edson! Eu achei esta figura no meio do texto dos rapazes. eu não sei se eles já conheciam ele de antonina ou se eles conheceram ele lá. mas pelo apelido tão antoninense fica a dúvida.
      Quem seria João Abajur, esta figuraça que mostrou aos escoteiros o cais do Rio em 1942?
      Mistério...

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