quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

AMARCHA DOS ESCOTEIROS 42: A BENFEITORA MISTERIOSA


A Serra da Bocaina, agora a de São Paulo. Os escoteiros passaram por aqui entre Areias e Bananal

(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 23 de janeiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão saindo Areias em direção a Bananal.)

Logo de manhã cedo, os cinco escoteiros antoninenses despediram-se de seu Quinzinho, o simpático prefeito Municipal de Areias, e retomaram o trajeto. As 7 e meia da manhã, completamente apetrechados, Chefe Beto, Manduca, Lydio, Canário e Milton partem sem saber as horas. O relógio de Lydio estava com os ponteiros soltos. 

Haviam percorrido até ali 287 quilômetros desde São Paulo. Em dez dias. Lydio afirma que aquele andar constante é um misto de técnica e persistência. Já tarimbado pelos raids que havia realizado em Antonina e Curitiba e mais a experencia deste, ele nos conta que nos primeiros dias o caminhante acha que vai ser tudo rápido e fácil. E não era nada fácil caminhar naquele sol escaldante de verão tropical! 

Logo vem o desânimo, produto da afoiteza dos primeiros dias. O cansaço vem a seguir, trazendo sofrimento físico, e, também, afeta a moral do caminhante. A energia cai dia a dia, e a coragem começa a fugir. Mas não basta só a coragem, diz aqui Lydio, o menino moço traquejado de caminhadas. É preciso também ter resistência, boas pernas e paciência. “Resumindo tudo: ser macho”, completa Lydio, afirmando aí o espírito de seu tempo. 

Logo depois de Areias eles se meteram num atalho malconservado, na esperança de cortar caminho. Contudo, aquele caminho malconservado era provavelmente restos da antiga estrada, abandonada com a construção da rodovia. Por ali dom Pedro deve ter passado em suas viagens rumo a São Paulo. O mato foi fechando a trilha, que foi ficando mais assustadora. 

Mais adiante, acharam umas casas de caboclos. “Na certa descendentes de índios”, observa Lydio. A estrada, contudo, é boa, embora malconservada. Eles acabaram economizando 11 dos 17 quilômetros que teriam de percorrer. 

Chegaram a um alto de Serra, com um cenário lindo. Era mais uma das maravilhas da Serra da Bocaina. Lydio se lembrou do pico Marumby e das montanhas que circundam sua Antonina natal. Decerto sentiu saudade. Ao descer a trilha ficou pensando se um dia ainda haveria de voltar ali. 

As 8 e meia da manhã alcançaram o Rio Santana. Lá, pararam numa venda de secos e molhados e aproveitaram para comprar mantimentos. Inclusive umas rapaduras bem gostosas, que eles ficaram roendo no restante do caminho. 

Chegaram em São José do Barreiro ao meio dia. Dado o sol intenso, o grupo de alojou embaixo de uma figueira bem frondosa, bem na entrada da cidade. De lá, foram procurar o prefeito municipal. O prefeito estava viajando, e quem acabou por acolhê-los foi sua esposa. Ofereceu aos rapazes uma bandeja com doces e frutas, mais um sempre bem-vindo bule de café. 

Lydio agradeceu à senhora pelo regalo, e o grupo, após ter comido bastante, foi descansar de novo embaixo da figueira. Lá dormiram um pouco até as 2 e meia, para evitar caminhar sob o sol forte. Foi quando Chefe Beto deu ordem de partida. 

As cinco da tarde, o grupo chegou ao rio Formoso, e em breve chegaram à vila de mesmo nome. Eles acamparam numa praça descampada, onde os moradores amaravam seus animais. Manduca começou a preparar o jantar. 

Entretanto, aquele foi um dia longo, onde haviam caminhado cerca de 34 quilômetros. Manduca começou a passar mal e tremia todo. Aos outros, aquilo parecia maleita. Lydio também estava com febre alta, e muita dor de cabeça. 

O que fazer, ali no meio daquele nada? Não havia por ali farmácia ou posto médico. Foi então que uma senhora, moradora da vila, apareceu para ver o que estava acontecendo ali, com aqueles rapazes vindos do nada chegando na sua comunidade. 

Espantada ao ver o quadro dos rapazes, ela logo providenciou algumas doses de homeopatia e alguns chás caseiros. Lydio anotou ter sentido gosto de laranja e quina em seu chá. De qualquer forma, eles logo melhoraram. Logo, Manduca recuperado começou a preparar o rango. Eles comeram e foram dormir, onde dormiram o sono dos justos. 

No dia seguinte, os rapazes seguiram viagem, sem conhecer o nome de sua benfeitora...

2 comentários:

  1. Remédio poderoso, tão poderoso que, em pouco tempo, Manduca já estava pronto para terminar o rango. Nossa, isso é que é medicina da boa!

    ResponderExcluir