quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 41: DORMINDO COM DOM PEDRO I!


A igreja Matriz de Areias. Aqui foi mais uma das "Cidades Mortas" do Vale do Paraiba atravessadas pelos escoteiros em janeiro de 1940

(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 22 de janeiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão saindo de Silveiras e chegando a Areias.)

A noite no Hotel Cintra, em Silveiras, havia sido tudo de bom. Revigorados, os cinco escoteiros de Antonina só queriam saber de pegar a estrada. As sete e meia, Chefe Beto, Milton, Canário, Manduca e Lydio partiram para Areias, distante 28 quilômetros dali. Entretanto, o forte sol ia diminuindo os ânimos. O calor era intenso. 

Agora os rapazes estavam deixando uma parte do Vale do Paraíba que era mais plana, com terrenos sedimentares, para Costear a Serra da Bocaina. A serra da Bocaina é um grande planalto que faz parte da Serra do Mar. Sua história geológica está ligada aos episódios finais da separação continental. Seu terreno, tectonicamente alçado por cima do planalto chega a atingir 1700 metros de altura. A caminhada agora iria ser feita em térreo de Serra praticamente até a baixada fluminense. 

Depois de caminhar toda a manhã, meio tontos, os rapazes resolveram descansar lá pelas 11 da manhã, debaixo de uma sombra da estrada. 

Ali fizeram um bom almoço Lydio conta que foi feito ovos fritos, batatinhas cozidas, arroz e carne seca no feijão preto. Um baita dum banquete. Pra completar, a sobremesa foi abacaxi em rodelas, com um cafezinho para dar a chave de ouro. 

Aproveitando a folga, os rapazes foram nadar no rio Ventura, que passava perto. Além de tomar banho, aproveitaram para lavar umas roupas. O calor era tão grande que eles resolveram dar um tempo por ali, esperando o sol baixar. 

As 14 horas, Chefe Beto deu ordem de partida. 

Nesta tarde os rapazes seguiam caminhando em grupos dispersos. Na frente iam Chefe Beto e Milton. Mais atrás seguia Manduca. Por fim, Lydio e Canário fechavam a marcha. As cinco da tarde, eles passaram pelo rio Vermelho e logo em seguida chegaram à cidade de Areias. Ao bater da Ave Maria, as seis da tarde, eles entraram na cidade. 

A cidade de Areias era uma cidade decadente do ciclo do café. Era uma das “Cidades Mortas” a que se refere Montero Lobato. Antes um mero pouso de tropeiros entre São Paulo e Rio de Janeiro, a Vila de São Miguel das Areias foi o local onde o café entrou no território paulista. Em meados do século XIX a riqueza da cidade era muito grande. Boa parte das construções da cidade data deste período. Com a retirada do café, a cidade diminuiu, até quase desaparecer. 

Os rapazes foram procurar o senhor prefeito municipal, para assinar o livro oficial. Desta vez, Lydio ficou encarregado de fazer o contato com o prefeito. Assim que o encontraram, seu Quinzinho, o prefeito, assinou o livro e os colocou no Hotel Santana, por conta da Prefeitura Municipal. 

Constam as lendas que foi no hotel Santana onde Dom Pedro, ainda príncipe regente, pernoitou na viagem que fez a São Paulo em setembro de 1822. Como se sabe, nesta viagem de Dom Pedro o Brasil voltou independente. Dormindo no Hotel Santana, o mais chique e famoso de Areias, os rapazes sabiam disso?

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