(ilustração Julian Fagotti) |
A Paleontologia Imaginaria não é futebol, mas também é uma
caixinha de surpresas. Entre os fósseis imaginários que estão catalogados ou descritos
já lá se vão milhares, como comprova a produção da Imaginary Paleontology Review, um dos periódicos de maior impacto
do mundo científico imaginário.
Um destes fósseis, entre tantos outros, é bastante singular
pelo fato de não ser um fóssil. Trata-se do propriolavus.
A história é longa, e vai ser contada aqui um tanto abreviadamente, dada a exiguidade
de tempo e espaço. Ou seja, temos mais o que fazer...
O propriolavus não
é nenhuma novidade na escala do tempo paleontológico. Desde a antiguidade se conhecem estas
feições: trata-se de feições aleatórias
nas rochas, preenchidas por cimentos ou óxidos, muitas vezes dando a impressão
de formar figuras. Em cientifiquÊs são chamados dendritos. Nestes dendritos, uns
veem a Virgem Maria, outros veem um coelho. Outras ainda, um sapo engolindo uma
estrela. Foi descrita também um quati malhado e uma concha de amonite. A
maioria, entretanto, nada vê. Porquê é só uma mancha na rocha, e não um fóssil.
Aristóteles citou uma destas impressões em sua Física,
volume II (hoje perdida), recuperada numa citação de latina de Flavius
inflavius: “em terras da Capadócia
acharam muitas destas figuras, que não querem dizer coisa nenhuma. Lá, são
chamadas de propriolavus”. Na Idade Média tal feição foi descrita por Santo
Agostinho, referindo-se a elas como “imposturas
da pedra”.
No mundo islâmico, esta figura foi descrita por Ibn Sina, também
conhecido na Europa como Avicena. Ibn Sina descreveu tais feições como imposturas
e como alucinações que a luz do sol poderia provocar. Para Al Jabr, um dos mais
famosos alquímicos islâmicos, o propriolavus
era somente fruto da imaginação. Na tradução latina de al Jabr, realizada no
século XIV pelo sábio bizantino Constantino da Beócia, o propriolavus foi descrito como “parente do azinhavre e do azebre”.
A história do propriolavus
começa a mudar com a leitura da obra do padre Anastasius Kircher. Em seu texto “quae et nos credimus, quod impostor esset
propriolavus”, Padre Kircher coloca em questão se o propriolavus seria uma impostura. Ou, então, uma mera brincadeira da Natureza,
ou lusus naturae, como se dizia
naquela época.
O texto kircheriano chegou a Inglaterra, onde recebeu uma
leitura atenta de Stebe de Bannon. Stebe de Bannon, como sabemos, que estava na
época envolvido numa conspiração para assassinar metade das monarquias
europeias e instaurar um reino cruzado na Europa Ocidental. Descoberto seu
plano, foi esconder-se na América.
Em suas andanças pelo continente norte americano, Stebe de
Bannon encontrou vários espécimes do propriolavus, alguns com o mau cheiro
característico. Não se sabe exatamente como, num destes trabalhos subterrâneos de
Stebe de Bannon, o propriolavus auto-intitulou-se fóssil, com o nome científico
de Olavus decarvalhus. A seção tipo onde ocorreria o presumido fóssil seria a
região de Richmond, na Virginia. Coberto de razão, o propriolavus começou a ser estudado por diversas pessoas em
diversos lugares da América Portuguesa.
Consta que o mineiro Silvério dos Reis foi um dos maiores
especialistas no estudo do propriolavus.
Apaixonado pelo estudo do propriolavus,
Silvério dos Reis chegou mesmo a enviar alguns espécimes para o filósofo Emanuel
Kant, que então estava se interessando por assuntos de Paleontologia. Mas o
eminente filosofo achou o propriolavus
sem importância, e sequer respondeu as cartas de Silvério dos Reis.
Revoltado com a ausência de resposta, Silvério acusou o
então alferes Joaquim Jose da Silva Xavier de haver sabotado seu contato com
Kant. Silva Xavier sofreu então um sério assassinato de reputação, orquestrado
pelo propriolavus, que via em tudo
sinais de perseguição. Como se sabe, o Alferes, ao final, foi condenado a morte
na forca e diversos outros cidadãos mineiros tiveram seus bens confiscados e foram
enviados para o exilio por conta das maquinações de Silvério do Reis e do propriolavus.
O autointitulado fóssil Olavus decarvalhus não foi muito bem
aceito na comunidade cientifica. A maior parte dos pesquisadores sequer
reconhecia sua existência. No entanto, sempre coberto por camada e mais camadas
sedimentares de razão, o Olavus decarvalhus estava sempre acompanhado de um
pequeno grupo de leigos que acreditavam piamente em seu caráter fossilífero.
Durante um certo período geológico, chegou a ter alguma
relevância, inclusive poder. Chegou a ser considerado o suporte de espécimes
unicelulares como o Velez sp e o weintraubius balburdicus. Mas quando começou a
abrir mais fortemente sua boca, o Olavus decarvalhus foi se tornando mais
conhecido. Quanto mais conhecido, menos estudiosos acreditavam nele.
O propriolavus extinguiu-se totalmente ao fim do Antropoceno
inferior. Deixou, em vez de impressões fósseis, um sem-número de dívidas para
seus seguidores pagarem.
(a Paleontologia Imaginária é um ramo da Paleontologia que trata de animais incertos; é um ramo do conhecimento que faz fronteiras com a paleontologia, a geografia, a física molecular, a psicologia e com Morretes (PR). Como membro da Sociedade Brasileira de Paleontologia Imaginária (SBPI) e colaborador da South American Review of Imaginary Paleontology, periódico classe A1 da CAPES, venho através deste blog fazer a divulgação científica da Palentologia Imaginária para o publico interessado em ciências)
Jeff
ResponderExcluirExcelente postagem
Sempre é bom atualizar o conhecimento.
Olavus de Car(v)alhus sp. é na verdade um incertae sedis.
Grande abraço