Se nada mais adiantasse contra a cólera, era preciso recorrer as orações... |
A epidemia de cólera estava
batendo à porta da Deitada-a-beira-do-mar. A população estava apavorada. As autoridades,
embora tomassem diversas medidas, não sabiam exatamente o que fazer. Havia uma
certa noção que a higiene era importante. Mas não se sabia como a cólera se transmitia.
Nem qual seria o tratamento mais adequado. Assim a cólera se espalhou por todo
o mundo no século XIX.
Estas pandemias de cólera foram
extremamente mortíferas em suas várias manifestações nos últimos duzentos anos.
Houve um grande esforço por parte dos governos e dos cientistas de todos os países
para se descobrir as causas e também a cura para a doença. Sabe-se que o
vibrião colérico foi descrito pela primeira vez em 1854 pelo médico italiano Filipo
Pacini (1812-1883) e pelo inglês Robert Koch (1843 - 1910) que fez o anúncio da
descoberta do bacilo da cólera em 1883.
Na Inglaterra, os trabalhos do
médico John Snow (1813-1858) foram decisivos para que se descobrisse os modos
de contaminação. Mas métodos eficazes de controle da cólera só seriam viáveis décadas
depois disso.
No Brasil de 1850 também não se tinha
um quadro completo de conhecimento para impedir a propagação da doença. Estima-se
que o cólera tenha feito cerca de 200 mil vítimas no período 1855-56. Isso no
tempo que a população total do pais era de aproximadamente 8 milhões de
habitantes. Segundo Donald Cooper (ver aqui)
, cerca de dois terços das vítimas foram provavelmente os escravos, que viviam
em situação mais precária de higiene.
No entanto, como tratar a doença? As
opiniões entre os médicos e autoridades também eram as mais diversas. Para alguns,
um remédio infalível seria o sumo de limão. No Pará, onde o surto da doença foi
bastante forte, o próprio presidente da província pareceu ter se convencido dos
poderes curativos do suco de limão. A carta que o Presidente da Província do Pará escreveu foi
publicada no dezenove de dezembro, na qual ele relata o tratamento (veja aqui).
Na matéria publicada há também a citação de diversas pessoas que teriam sido
curadas quando tratadas com o sumo de limão. A lista é bastante extensa.
Há também uma nota falando de um remédio
sugerido por um médico francês, que seria também bastante eficaz (veja aqui).
Como em todo o caso de grandes
epidemias, tentava-se de tudo o que estivesse ao alcance. Talvez não tenham
sido poucos os que recorreram a curandeiros e a simpatias, remédios caseiros e
outras formas de cura.
Também haviam as soluções metafísicas
para a epidemia. Existem no período diversas publicações no jornal, onde se vendem
as populares orações da estrela do céu e a oração de nossa senhora do desterro.
Essas são orações muito comuns, que as pessoas deveriam comprar impresso e
carregar consigo como proteção para a peste. Nossa Senhora do Desterro era a
santa que protegia das pestes, bruxarias e calamidades. Era a ela que os piedosos
e devotos habitantes da Deitada-a-beira-do-mar recorriam nestes momentos de
aflição.
De qualquer forma, parece que em 1857 os efeitos da epidemia
parecem ter passado. Numa comunicação do presidente da província o texto cita a salubridade da província, que fora poupada pelo cólera. Da mesma forma, os
hospitais improvisados construídos em Paranaguá e antonina foram desmobilizados
(veja aqui).
O governo imperial estabeleceu poucos anos depois um código para os portos onde
estabelecia diversas normas de higiene (Ver o Código Naval do Império aqui).
E as outras doenças? Quais eram as doenças mais comuns em
antonina e no litoral neste período? Como as pessoas se tratavam?
Me senti carregando comigo a oração a Nossa Senhora do Desterro. Abraço!
ResponderExcluirPois então, a Santa dos desterrados...me identifiquei também...
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