Que vivemos tempos estranhos todos sabem. No entanto,
nada me deixa mais triste que todos os laços que tentamos criar, desde o fim da
Segunda Guerra Mundial estejam se desfazendo diante de nossos olhos sem que ninguém consiga fazer nada.
Nestas horas tento invocar Santa Rosa Luxemburgo, pedindo
que nos livre da barbárie. No entanto, ao longo destas ultimas semanas ou meses,
o cenário parece ser consistentemente uma fragmentação e ruptura de laços frágeis, porem necessários.
Fazem dois séculos que estamos construindo espaços para o
respeito e a dignidade individuais, os chamados Direitos humanos. Direitos
esses que são das classes dominantes e pouco, muito pouco, das classes
subalternas.
Os direitos da burguesia são fáceis de ver e respeitar. O
direito dos outros, no entanto, é vilipendiado, negado, execrado. Direitos humanos para humanos direitos, não é
mesmo? Será que os direitos humanos de um humano “direito” branco são os mesmos
de um humano “direito” negro? Será que um humano “errado” branco não tem mais
direitos que um humano “direito” negro? Isso sem contar os humanos “errados”
negros (ou índios, ou chechenos, ou de uma religião diferente da nossa), que
são sumariamente eliminados.
Ao tentar uma construção social que seja inclusiva, que respeite
classe social, credo, cor, gênero, não são fáceis os obstáculos que se interpõe.
A discussão sobre humanos “errados” ou “certos” torna um debate difícil, oco,
inconclusivo.
O que se vê é aumentarem barreiras, muros, dificuldades. O
outro é sempre o inimigo, aquele de quem devo me defender com armas até os
dentes. Estamos num tempo em que se declaram uma cínica guerra à pobreza, à diferença,
negando valores fundamentais de altruísmo e solidariedade.
É com imensa tristeza que vejo a facilidade com que a mera ausência
de polícia, uma polícia nem sempre boa ou cidadã, nos torna num amontoado de
bestas ferozes. O que passa pela cabeça de um cidadão que saqueia uma loja? Ou nas
pessoas que se aproveitam da confusão para praticar todo tipo de delitos?
Ao ver as cenas do caos no Espirito Santo, o que me vem à cabeça é que parece que a barbárie
vem nos aplicando um peremptório 7 a 1.
O que vemos surgir dessas greves de polícia é uma sociedade
que não tem nenhum laço que a una. Uma sociedade esgarçada, desigual e que só
se mantem unida pela força bruta e pela arbitrariedade da polícia que temos (Nos
ajude, São Foucault!).
Chego a pensar que Trump tem razão ao impedir a entrada de refugiados,
ou Temer e os partidos de sua coalizão golpista de impor retrocessos sociais e
aumentar o nível de exploração do trabalho. Eles têm razões (as deles).
Nós é que somos estúpidos a pedir altruísmo e solidariedade
numa sociedade marcada pela brutalidade e que regride ao tempo das invasões
barbaras assim que a polícia desaparece. Essa sociedade eu não quero.
Feliz do povo que não precisa de polícia para viver em paz.
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