Foliões da avenida Rio Branco em 1942 |
(Estamos no mês de fevereiro de 1942. Enquanto o mundo está em
Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de
Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro
para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 17 de fevereiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão curtindo adoidados a ultima noite do carnaval do Rio.)
Finalmente o último dia do
Carnaval de 1942 havia chegado. Aí, sim, não teve o que segurasse os rapazes
dentro das rígidas normas do Colégio Militar. Quem seguraria os rapazes ali
alojados com o maior carnaval do Brasil rugindo ali na frente e fazendo tremer
as casas?
Segundo o diário de Lydio, eles
saíram bem cedo e voltaram bem tarde. Neste último dia, o ponto preferido dos
rapazes foi a Avenida Rio Branco. Foi uma mudança que foi se operando devagar
no carnaval do Rio de Janeiro, com os desfiles paulatinamente migrando da praça
Onze, em obras para o surgimento da nova Avenida Getúlio Vargas, para a Avenida
Rio Branco.
A Avenida Rio Branco era o pedaço
da maior animação e, segundo Lydio, era também o ponto das maiores brigas. A
todo o momento os blocos de sujo saiam praticando o que Lydio chamou de
“malvadezas”, assim mesmo, entre aspas, com as folionas que “desse bola”. Eram
os onipresentes engraçadinhos que mexiam com a mulher dos outros.
O resultado
eram tumultos. Por vezes, segundo o relato, surgiam as “peixeiras” e alguém se
feria com gravidade. Se hoje em dia isso ainda é comum, é de se imaginar que as
brigas e a violência no carnaval fossem muito mais letais que hoje.
Os bares e cafés das imediações
da Avenida Rio Branco neste último dia de carnaval estavam lotados, e não
venciam a demanda da freguesia. A região estava cheia de gente. Lá pelas 15
horas uma equipe da Rádio Nacional colocou altos falantes ao longo da avenida e
logo se formou um monumental baile ao ar livre. Todos pulavam e cantavam as músicas
deste e de outros carnavais. Lydio anotou “A Jardineira”, “Praça Onze” e “Mamãe
Eu Quero”.
Na verdade este foi um carnaval
muito rico de novas canções. É o ano em que surgem alguns grandes “hits” do
carnaval, como “A Mulher Do Leiteiro”, “Nós, Os Carecas” e principalmente “Está
Chegando A Hora”. É um samba de Henricão e Rubens Campos, uma adaptação da
valsa “Cielito Lindo”, de A. Sedas e F. Tudela, cantado por Carmem Costa.
Carmem era empregada doméstica na casa de Francisco Alves, e lançou neste ano o
samba que e que consagrou como uma das grandes cantoras brasileiras e está até
hoje na cabeça do povo.
Luzes coloridas foram acesas
quando chegou a noite. O espetáculo prosseguiu com desfiles de carros
alegóricos. Os desfiles não eram como os desfiles de hoje. Eram desfiles de
sociedades e clubes, em carros alegóricos com temas carnavalescos. Enquanto
isso, na Praça onze, havia o desfile das escolas de Samba.
Naquele ano, numa
disputa apertadíssima, a grande campeã foi a Portela, com o enredo “Vida no
samba”. Em segundo lugar ficou a “Depois eu Digo”, com o samba “Uma noite
feliz” e, mais atrás na pontuação, a eterna Estação Primeira de Mangueira,
com o samba “A Vitória do Samba nas Américas”.
Na avenida Rio Branco, vendo os
desfiles das sociedades, Lydio nos conta que eles traziam belas garotas de
maiô, com belas pernas de fora e rebolando sem parar. “Aquilo deixava os
marmanjões com água na boca”, diz ele, também boquiaberto.
Mas
Lydio não estava só de água na boca. Eis que, lá numa linha, ele nos
diz que estava assistindo o desfile “agarrado à Lurdinha”, e não queria mais
nada da vida. Com certeza queria. Não sabemos mais nada de Lurdinha, mas com
certeza todos sabemos como são os amores de carnaval e ainda mais para jovens
adolescentes. Que bela e inesquecível noite deve ter sido!
Mas o carnaval de 1942 ia
acabando. Eram quase onze da noite. Encerrando o desfile vieram as grandes
sociedades: clubes sociedade dos tenentes, sociedade fenianos, pierrôs da
caverna e outros de que Lydio não conseguia lembrar. Quando regressaram ao
alojamento, os rapazes ainda escutavam os cantos de nostalgia: “É hoje só só
só../Vai se acabar já já já!”...
E assim os rapazes se despedem
também do carnaval carioca. Lydio ainda nos diz que espera um dia voltar a
vê-lo novamente. Mas, antes disso, muito antes disso, eles tinham uma missão a
cumprir: entregar a carta para o presidente.
Será que conseguiriam?
O Lydio devia ser uma figuraça!
ResponderExcluirÔ!
Excluir