Os escoteiros iam percorrendo as Serranias do Ribeira, repletas de matas de Araucaria |
(Estamos no mês de dezembro de 1941. Enquanto o mundo está em
Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de
Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro
para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 23 de dezembro de 1941, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca)
estão chegando atravessando as Serranias do Ribeira. Lá. eels chegaram numa cidade de gente mal-encarada. Será que eles vão ter problemas?)
Apesar de dormirem num paiol de milho cheio de ratazanas em
Tuneiras, os rapazes acordaram animados naquela terça feira, 23 de dezembro. O
final da primeira etapa da viagem, a cidade de Capela da Ribeira, poderia ser
finalmente alcançada.
Eles seguiram então no rumo norte, pela “estrada provisória,
que ligava parcialmente Curitiba a capela da ribeira. Segundo o diário de
Lídio, a estrada era muito malconservada, cheia de buracos, com pontes de
madeira apodrecida. Ao longo da estrada, estavam passando continuamente tropas
de mulas carregando balaios com milho e feijão. De vez em quando, uma carroça
puxada por bois se fazia ouvir de longe, cortando o silencio da paisagem.
Logo adiante os meninos ficaram assombrados: estavam
passando pela Garganta do Leandro, onde o rio Passa-Vinte formava uma grande
cachoeira. Para Lídio, o barulho era equivalente a um trovão, e podia ser
ouvido a muitos metros de distância.
Depois deste espetáculo bonito da natureza, começou outro,
macabro: ao longo da estrada viam-se aqui e ali diversos esqueletos de
caminhões de combate, enferrujando no clima quente e úmido do vale do Ribeira.
Eram restos de antigos combates da Revolução Paulista de 1932.
A região que eles estavam cruzando era a frente do Ribeira
da guerra civil deflagrada com o manifesto constitucionalista de São Paulo.
Apesar de não ser uma das frentes mais importantes, ali também haviam ocorrido
alguns combates.
Na garganta do Leandro Lídio notou horrorizado um cemitério
com cruzes de ferro dos soldados mortos durante os combates da revolução
constitucionalista de são Paulo. Havia apenas oito anos, aquela região havia
sido palco de combate entre as forças de são Paulo com os batalhões
paranaenses.
Deixando para trás aquele cenário de guerra, os meninos
passaram pela localidade de Poço grande e no inicio da tarde já estão no
lugarejo de maria Gorda. Ali, Lídio anotou que existia a mina de cobre de
Garapongá. A região do vale era também (ainda é) uma região riquíssima em bens
minerais.
Neste período havia uma grande concentração de pequenas
minas de cobre e chumbo por toda a região. Em Apiaí, no lado paulista do vale,
estava sendo construída uma Usina Experimental de Chumbo para beneficiar o
minério e seus subprodutos, como a prata, o ouro e o zinco. Era um período de
grande investimento público e privado, e pequenos povoados mineiros iam se
formando aqui e ali, no meio da imensa mata.
Depois de tomar um café e um bolo de fubá, os meninos
seguiram rumo norte, em direção ao vilarejo de Epitácio Pessoa.
No caminho, Lídio notou (e anotou em seu diário) que o rio
que margeava a estrada, o rio grande, corria sobre um leito de areias muito
brancas. Aqui e ali, haviam algumas pequenas cacheiras, que Lídio anotou como
sendo de gré vermelha. Gré ou grés é uma palavra francesa para arenito, o que
não está de todo incorreto, visto que realmente ocorrem muitos corpos de rochas
que poderiam ser assim denominadas nesta época.
Os jovens escoteiros estavam atravessando uma zona composta
por rochas metamórficas muito antigas, que formam grandes cristas de serra,
formada por duros quartzitos. Em outros locais, ocorriam mármores ora
cinzentos, ora mais claros. Estas rochas eram a razão do potencial mineral do
Vale do Ribeira. Só para dar um exemplo: na vila de Pedra Preta, onde hoje está
a atual cidade de Tunas do Paraná, haveria de se iniciar alguns anos depois a
extração de uma rocha ornamental muito usada hoje em dia, o “granito verde
Tunas”.
Nas encostas das serras que eles iam pacientemente
atravessando, eram frequentes as cachoeiras. Nestas cachoeiras e corredeiras ao
longo da estrada, as caninhas do mato e os cordões de frade estavam sempre
presentes, batidas pelo vento formado pela energia das quedas d´água. Um
espetáculo para encher os olhos...
Nesta bucólica caminhada, os meninos chegaram na vila de
Epitácio Pessoa no fim da tarde. A vila já tinha sido mais importante, mas
estava em decadência econômica. As casas de estuque tinham buracos na parede e
estavam com aparência de malconservadas. A igrejinha pequena, no alto de uma
pequena colina, não dava aparência melhor à vila.
Os rapazes encontraram abrigo numa casa que servia de
botequim, escola, residência e engenhoca de cachaça. Ao procurarem um rio para
tomar banho, conversaram com alguns meninos da vila. Estes meninos disseram que
os homens do lugar não estavam gostando da presença deles ali. Achavam que eles
eram policiais procurando marginais e fugitivos
homiziados naquele fim de mundo.
A razão para as suspeitas eram as vestimentas do chefe Beto.
Vestido com um culote e portando um capacete, chefe Beto também tinha um
revólver na cintura. O porte militar do jovem chefe escoteiro chamou a atenção
dos homens da cidade. Ali, naquela vila cheia de fugitivos da justiça, a sua
simples presença provocava verdadeiramente esta suspeita.
Entretanto, o que realmente chamou atenção dos rapazes foi a
professorinha da vila. Curiosa e bonitinha, ela atraiu a atenção dos rapazes,
que ficaram conversando com a moça até a hora de dormir.
Na hora de dormir, chefe Beto ficou com a única cama, tendo
os outros que se contentar com o chão. Aquela seria a ultima noite dos rapazes
no sertão paranaense.
Essa viagem deveria ser refeita nos dias atuais, seria muito interessante. abraço!
ResponderExcluirAlguem já pensou...quem sabe?
ResponderExcluirSempre que posso eu visito as cidades e estradas por onde eles passaram, mas refazer a viagem seria uma coisa interessantíssima!!