quarta-feira, 24 de outubro de 2018

A BOLSA E A VIDA



Na feira deste domingo, enquanto escolhia abobrinhas e pepinos japoneses, escutei casualmente a conversa de dois homens ao meu lado. Conversa de homem. De homem de bem. Os dois falavam de Bolsa. Um falou “a Bolsa subiu”. O outro concordou e respondeu: “Tomara que continue assim”. Pelo pouco que pude perceber, os dois estavam falando das pesquisas da ultima semana que apontavam o favoritismo de Bolsonaro e a aparente euforia do mercado com esta notícia.
Em geral, eu sempre fico espantado com o noticiário econômico. As oscilações para cima e para baixo das bolsas de valores tem a ver com causas que nem sempre compreendemos. Se compreendemos, muitas vezes nos chocamos. Algumas muitas vezes, notícias aparentemente boas não são boas para omercado: o aumento do numero de empregos nos EUA em 2011, por exemplo. Outras vezes, compreensivelmente, os mercados reagem com perplexidade, como foi com a notícia da vitória de Donald Trump nos Estados Unidos.
No Brasil, o ciclo é o mesmo. Os mercados reagem favoravelmente se existem indícios de que vai haver reforma da previdência, por exemplo. Isso vai ser uma tremenda dor de cabeça para os trabalhadores, mas o “tal do mercado” comemora. Se as negociações da Reforma da Previdência emperram, o mercado reage em baixa.
Eu não entendo nada de Economia. Alguns dizem que é uma ciência humana. Muitos discordam. Eu não entendo nada de economês. Tenho alguns palpites. Muito dizem que os mercados são a melhor maneira de organizar a atividade econômica. Que a tal da mão invisível nos guiaria por ações concretas e seguras, onde todos sairiam ganhando.
Outros dizem que um governo seguro pode melhorar a mão do mercado. Uma ação política por parte do Estado pode resolver os problemas de assimetria entre os entes econômicos. Eu acho que isso é o mais seguro. Não confio em mãos metafisicas.
Nada nos garante que as ações dos governos nos mercados sejam sempre sérias e sábias. São decisões políticas, marcadas por interesses de grupos. Mas o mercado, qual um graxaim selvagem, não gosta de amarras. Morde as cordas e sai desvairado pela noite à procura de presas. Assim pode ser o mercado.
 Por vezes, o mercado beira o cinismo. No dia da facada que Bolsonaro levou, o mercado reagiu com alta. Segundo os analistas, prevendo as facilidades que o Coiso teria com sua vitimização, como realmente teve. Marcelo Coelho, na Folha, perguntou se os mercados são amorais ou imorais. Qual é a sua resposta para esta pergunta?
Hoje, o mercado está em alta. Os que fazem negócios estão otimistas. Vão poder ganhar muito dinheiro, fazer bons negócios. Por isso as Bolsas “sobem”. Entretanto, nem sempre o que o mercado quer é o que a sociedade quer. Mas, quando isso acontece, os homens na feira de domingo discutem felizes sobre as tendências da bolsa.
O mercado reagiu em alta quando Collor de Mello ganhou as eleições. Reagiu muito bem à eleição de Hitler, por exemplo. E reagiu muito bem quando Temer, o vampiro, conseguiu o seu cargo e sua "ponte para o futuro" naquela votação horripilante de um congresso pouco comprometido com o interesse publico. Nem sempre o Mercado reage bem à democracia. Assim como deve ter reagido bem quando o golpe sangrento de Pinochet derrubou o governo socialista legitimamente eleito de Salvador Allende.
Os mercados não levam em conta a economia real. Aquela que nós todos fazemos no dia a dia. Não aquela feliz economia de Adam Smith, do padeiro e do açougueiro que acreditam na mão invisível. O mercado, a maior parte dele, joga contra a sociedade que lhes dá suporte. São amorais. São imorais. Os mercados devem ser criminalizados sempre que trouxerem prejuízos para a sociedade pagar. Os banqueiros e especuladores da crise de 2008 nos Estados Unidos deveriam ter sido presos . Eram grandes demais para quebrar?
Adam Smith acreditava na moralidade dos agentes econômicos. Eu concordo, e acho que assim deve ser. Por respeito a mim, por respeito a você. Os mercados devem se comportar, ter regras dentro da moralidade, e não fora dela. E que, se não se comporta, o mercado não venha chorar as pitangas depois que quebram de tanto especular, como foi na crise do subprime. 
Ser o candidato do Mercado não quer dizer grande coisa. Ser o candidato das liberdades todas é muito, quase tudo. É tudo o que temos pra hoje. 

O Mercado somos nós. 


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