Que Antonina é fantástica, todos já sabem. Todo mundo que
sentiu no rosto o vento do mar na colina da matriz ou quem já comeu bolinho de
bacalhau no mercado sabe do que estou falando. Antonina, a
Deitada-abeira-do-mar, a cidade e sua gente, tem um jeito diferente, que ri dos
percalços da vida, que brinca e fala o malemolente linguajar dos bagrinhos, é
um lugar especial, que cativa e encanta.
No entanto, na noite desse frio domingo de julho, soube que
a cidade era a notícia do Fantástico, da rede globo (assim mesmo, em minúsculas).
Faz anos que não vejo o Fantástico. Tem coisa melhor para fazer nas noites de
domingo. Inclusive fazer nada. Ver esse programa sensacionalista e apelativo
não é uma boa maneira de começar a semana. Por isso, não vi.
Mas sei do que estão falando. Qualquer um no Brasil sabe o
que estamos falando. Aqui na região de Campinas, que tem cerca de 3,1 milhões
de habitantes e concentra 8,5% do PIB paulista, o problema da corrupção é endêmico
(aqui). Recentemente, em 2012, o prefeito de Limeira (300 mil habitantes) foi
afastado do cargo por corrupção (aqui), mas voltou por decisão judicial.
Na lista da Lava jato constam o ex-prefeito e o atual prefeito de Campinas (1
milhão e 200 mil habitantes), o ex-prefeito de Paulínia (80 mil habitantes) e Sumaré
(260 mil habitantes). A corrupção está no nosso dia-a-dia, em nível municipal.
Se digitamos na busca do Google “prefeito corrupto” dá
aproximadamente 495 mil entradas. “Corrupção prefeitura” dá 848 mil entradas e “prefeito
afastado por improbidade administrativa” dá 293 mil entradas. O número de casos
é grande, quase como uma epidemia.
Como não saber da corrupção? No caso do indigitado
ex-prefeito, já sabíamos antes da eleição (ver aqui). Briguei com grandes amigos
meus por causa dele, o “grande apolítico” (aqui). Toda vez que vou à Antonina, alguém
me conta de um causo. Quando a câmara tentou enquadra-lo, ele comprou a câmara.
Todos sabiam. Por que o espanto agora?
Parece que todos sabem. E quem está “lá dentro” não tem
pudor em ganhar o que não lhe é devido. Pessoas honestas e bem-intencionadas
acabam “entrando no esquema” e saindo sujas como qualquer ladrão de galinha.
Não adianta fazer mea culpa, como vejo alguns fazendo. Não adianta
chorar. Culpa quem tem é pecador. Criminoso é quem comete crime. A culpa pode
ser resolvida num culto evangélico ou num confessionário. O crime é resolvido
com a devolução do roubado e com uma pena a ser paga, dependendo do crime.
Alguns estão se deliciando com o outro apanhado com a boca
na botija. Ou a boca no dinheiro. No entanto, não podemos nos comportar como se
fôssemos incorruptíveis, ou como se isso não acontecesse conosco - ou com nossa
família. Fechar os olhos para isso é um caminho para cairmos na armadilha. Devemos
sim é pensar no quanto somos cúmplices com estes esquemas, quanto não deixamos –
por ação ou omissão – nosso dinheiro e nossos direitos irem para o ralo.
A nível estadual, vocês no Paraná têm o Beto Richa, que
dispensa apresentação. Aqui em São Paulo temos Alckmin e os 24 anos de PSDB e
seus esquemas mal resolvidos e impunes. Ambos aliás eleitos no primeiro turno. A
nível Nacional, estamos vendo que boa parte da população tolera um presidente
notoriamente corrupto, mas que os livrou do “monstro petista”. Para não termos
as “pedaladas” ou as pretensas bobagens que a presidenta Dilma falava,
tolera-se a corrupção e as gafes internacionais de Fora Temer. No congresso e
na justiça, a impunidade rola à solta, como se rissem de nós. Foi para isso que
o pessoal com a camisa da seleção foi pra rua?
No caso da Deitada-a-beira-do-mar, mais do que virar um
festival de piadas no Jequiti ou um Fla-Flu, devemos pensar melhor. Até que
ponto nos deixamos levar por este estado de coisas, que nos levou a ser
conivente e naturalizar a corrupção até chegar no ponto que chegamos?
Até porque, na internet, estão batendo nos fracos, pra
variar. O nosso conhecido assessor que beija dinheiro, nosso ex-vereador que
chora, todos esses são arraia miúda, café pequeno. Bagrinho no pior sentido da
palavra. O esquema maior, no entanto, continua na ativa e ditando as políticas
da Terra de Valle Porto. Esse aí, quem se atreve a apontar?
(Como muitos devem notar, não estou há tempos escrevendo
sobre Antonina e seu cotidiano aqui no blog. Os motivos são muitos. O principal
é que, de longe, é mais difícil enxergar as folhas das arvores. Não se pode falar
de longe, de onde estou. Por isso, não tenho mais comentado sobre fatos de
cotidiano. Mas esse me pareceu importante demais.)
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