Os meninos magrinhos dos anos 60/70 marchando no aniversário da Deitada-a-beira-do-mar |
Vejo no meu telefone que o tempo em Antonina é nublado, com
50% de probabilidade de chuvas. A temperatura oscila pouco, entre confortáveis
19 e 23 graus. Será que vai ter desfile?
Quando era pequeno, esse era o terror dos dias 6 de
novembro: será que vai chover? Se chovesse muito, o desfile do aniversário da
cidade seria cancelado: como assim, não desfilar? A gente ensaiava um monte,
noites e noites lá na caserna dos escoteiros, para que todos marchassem
bonitinho, todos juntos, pé direito, pé esquerdo, num mesmo ritmo marcial. Se
chovesse, como seria?
Nos meus anos de guri, todos se reuniam no coreto da praça:
as escolas, as associações beneficentes, os escoteiros. Era um mundo, penso
hoje, ainda tributário da era Vargas e daquele mundo protofascista das
corporações. Mas, para nós, naquele tempo, isso não importava. Era uma festa. Todos
estavam de roupas de festa. Nós, escoteiros, impecavelmente fardados.
No coreto, os discursos. Nem me lembro. A gente não ouvia
direito, ou não entendia direito. Não devia ser coisa séria mesmo. Estávamos ali
tentando ser marciais, brincando de soldadinhos. Lá em cima, o Prefeito, o Presidente
da Câmara ou quem quer que fosse o orador, nada disso nos importava. Ficávamos vendo
era quem chagava atrasado, quem havia esquecido alguma peça da farda, quem
estava com o lenço arrumado, o bibico certo na cabeça.
Depois, vinha o desfile.
Os escoteiros abriam o desfile, marciais e garbosos o quanto
podíamos ser marciais e garbosos aqueles meninos magros mal cabendo nas fardas.
Na verdade, desfilávamos para nós mesmos e para nossas famílias. Sempre quando passávamos
tinha um grupo que aplaudia um de nós, gritava o nome, batia palmas. Eram as famílias
que estavam ali, enxergando-se naquele menino de farda um futuro e um passado.
Ficávamos sempre muito nervosos durante o desfile, de olho
pra ver se estava tudo certo, se todos estavam de passo certo. Estávamos todos nervosíssimos
até chegarmos ao Jequiti, onde o desfile terminava. Ali, quando nos
dispersávamos, tínhamos uma outra tarefa: cuidar da “segurança” do desfile.
Armados de grossos bastões de madeira, ficávamos 1á frente
da multidão para impedir que se atravessasse a pista do desfile, coisa que
quase nunca acontecia. E ali ficávamos, marciais, “cuidando” do desfile das
escolas e das associações. Era um prazer ter toda aquela responsabilidade. Lembro
do orgulho que nós sentíamos por estar ali, fazendo parte das comemorações da
cidade.
Acho que esta é a minha emoção mais marcante do dia 6 de
novembro.
Faz muito tempo que não vou a um desfile do aniversário da
Deitada-a-beira-do-mar (o deste ano é do 219º aniversário da elevação à vila,
não é isso?). Aquelas lembranças são de um outro tempo, de uma outra cultura,
de uma outra pessoa. Não sei como são os desfiles hoje, nem sei se teria paciência
para assisti-los.
Sinto mesmo é uma grande e carinhosa lembrança de minha infância,
de meus companheiros. Lembrança de um tempo que eu me sentia ligado profundamente
a minha cidade e à sua gente. Por mais que me esforce, aquelas sensações aparecem
para mim borradas como numa fotografia antiga.
Saudades, Capela! Saudades, Grupo Escoteiro Valle Porto de
Antonina!
Como sempre, um belo texto.
ResponderExcluirMais uma vez obrigado, meu querido Edson!
ExcluirMeu velho, a tua passárgada faz tempo que acabou. Antonina hoje é dinamica e moderna, Tem tráfico, roubo, furto de monte, até assassinato em saida de baile. Parece que a única linha contínua que nunca foi interrompida é a venalidade dos politicos antoninenses, "virtude" generalizada em quase todos os municipios brasileiros. Sonhar com o paraiso perdido só traz tristeza e enfarte. Caia na real, meu velho!!! Seja masoquista, e corajoso, ame a Antonina de hoje se Voce for capaz!!!
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