Capa da primeira edição do livro de Thomas Bigg-Wither, "Pioneering in South Brazil", de 1878 |
PARTE 1
O rebocador chegou às três horas, mais ou menos. Era uma
embarcação pequena, de rodas, de vinte toneladas talvez, e, embora sendo curta
a distância entre Paranaguá e Antonina, não podíamos esperar fazê-la em menos
de quatro horas, considerando o fato de estarmos rebocando cinco barcaças
carregadas.
Paramos em Paranaguá um quarto de hora. Com melhor
conhecimento da cidade, eu diria que ela não podia ser muito sadia, cercada de
brejos como se acha, e não só, pois, quando a maré baixa, vêem-se grandes
extensões de lama em frente à cidade, expostas a um sol abrasador. Contudo, os
moradores não se queixam de sua insalubridade, mas nem os do Rio de Janeiro o
fazem da cidade em que vivem.
(...)
Toda a região, que se estende para o interior, por muitas
milhas até as encostas da serra do mar, parecia ser imenso pântano, com um ou
outro baixo montículo aqui e ali. Toda esta parte não era cultivada,
naturalmente, e quem a olhasse sentiria arrepios. No lado oposto da baía, o
terreno era montanhoso, cultivando-se ali o solo em pequena extensão. Estas
observações foram feitas enquanto navegávamos rumo a Antonina, rebocando as barcaças
na velocidade média de três milhas por hora. (...)
Nunca, pensei comigo, “o mais velho habitante de Antonina”
presenciou a chegada de tantos “capitães” e “doutores” (descobrimos depois que
teríamos de escolher um desses títulos, pelo fato de sermos engenheiros).
A fim de darmos ao nosso desembarque na província em que
futuramente trabalharíamos aspecto festivo, abrimos uma de nossas caixas de
fogos de artifício e foguetões de sinal, combinado de solta-los um pouco antes
da chegada do navio à vila. O sol já se havia deitado há muito tempo quando
chegamos à distância de uma milha de Antonina. A noite era escura e, portanto,
favorável ao espetáculo. A um sinal convencional, o navio ficou iluminado pela
abundancia dos foguetes, pistolões e rodinhas. No mesmo momento muitos vivas à
Inglaterra, saídos de uma vintena de estentóricos pulmões, foram ouvidos.
Quando o espetáculo ainda estava no auge, desprendemos, subitamente, o cabo do
reboque e o pequeno rebocador, livre das barcaças pesadamente carregadas, encostou
garbosamente no cais, resplandecendo ainda por cima e ao derredor pelos fogos
que soltávamos, em grande estilo. Assim, mais uma vez, triunfalmente,
desembarcamos nas costas do Brasil.
O espetáculo pirotécnico havia atraído uma pequena multidão
ao desembarcadouro, pois não há nada que o brasileiro goste mais do que soltar
uma bomba, busca-pé ou foguete, contentando-se também com ver os outros
soltarem. Com efeito, que seria dos dias santos ali, se não houvesse a feliz
invenção dos fogos?
(Thomas Bigg-Wither (1845-1890) era um engenheiro inglês; Seu relato parcialmente publicado aqui descreve sua estadia em Antonina em 1872, como parte de um grupo que estava estudando o trajeto de uma grande ferrovia entre o Mato Grosso e o Paraná, então recém emancipado de São Paulo; trata-se de uma das mais completas e bem-humoradas descrições da Deitada-a-beira-do-mar no seculo XIX)
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