domingo, 11 de março de 2012

A TRAGÉDIA FAZ UM ANO


O Bairro da Larangeira em março de 2011

Hoje faz um ano da grande catástrofe que nos atingiu. Em meio ao céu azul de Campinas, tento procurar informações sobre a situação do verão. No site do Simepar, vejo que nosso verão 2012 foi controlado pelo fenômeno La Niña, que traz menos chuvas – e a conseqüente estiagem no oeste da região sul, e dias mais quentes sem chuva. E fico mais tranqüilo.
Ficar tranqüilo, entretanto, é o principal problema. Dizem os Japoneses, escaldados que são de grandes desastres naturais, que as tragédias acontecem quando nos esquecemos delas. Na hora em que estamos mais folgados, desprevenidos, arrogantes até – “faz muito tempo isso” – e é exatamente a hora em que volta a acontecer. Portanto, não deveríamos esquecer o 11 de março de 2011.
Por vários motivos. Tais fenômenos são cíclicos. Em 1995, quando trabalhei numa outra grande tragédia em Pirabeiraba (Joinville), eu via os homens de minha idade estupefatos, dizendo nunca terem visto uma chuva nem deslizamentos de terra daquele porte. Atrás deles sempre vinha o Opa, o avozinho, a nos contar uma história, naquele português de colono lá deles: “Em xinquenta e doix teve uma muita piorr que exta!”. Ou seja, havia um certo tempo para a ocorrência de chuvas anormais e grandes deslizamentos de terra, o tempo de algumas gerações até. Mas elas voltam, tão certo quanto o sol todos os dias.
Outro motivo importante para não esquecer o 11 de março: devemos diminuir nossa vulnerabilidade aos desastres. Por exemplo: o terremoto do Haiti foi muito menos intenso que o terremoto do Chile no mesmo ano, mas os custos em vidas foram astronomicamente maiores. Por quê? Por que no Haiti as pessoas vivem mal, tem casas pessimamente construídas e não tem informação de como proceder em caso de tragédia. Como diminuir nossa vulnerabilidade? Tendo um bom mapeamento das áreas de risco, tendo planos de evacuação que funcionem e, principalmente, tendo uma população que tenha mais educação e informação, que more melhor e tenha mais cuidados na hora de escolher o local e os métodos adequados para construção de suas casas.
Revirei os blogs, o meu e os outros, em busca de textos, noticias e tudo o mais. Tem bastante coisa, bastante informação. Confesso que fiquei tenso relembrando todos aqueles momentos, a cidade de joelhos, apavorada, as pessoas correndo pra lá e pra cá, todos se perguntando: e agora?
Naqueles dias, enquanto corria os morros e avaliava as áreas mais atingidas, fui convidado, pelo meu querido amigo Eduardo Bó, para uma conversa com algumas pessoas da cidade. Expus o que estava sendo visto e o que estava sendo feito naquele momento de tragédia. Inclusive, coloquei para todos que o processo de reerguer a cidade seria lento e doloroso, de minha própria experiência em outros casos como este. Anos depois, ainda existiam pessoas desalojadas em Blumenau, por exemplo. As dificuldades seriam grandes.
Nos meses seguintes, tornei a visitar algumas das áreas com meus alunos de Iniciação Científica. A cidade, com razão, ainda olhava o morro com desconfiança. As cicatrizes ainda estavam todas lá. A área da Laranjeira estava como uma cidade fantasma, com casas destruídas, casas demolidas e rapazes vagando aqui e ali. Um cenário ainda de guerra.
Uma das coisas que me lembro foi de um texto publicado no Bacucu com Farinha, onde coloquei a possibilidade de um pacto por Antonina, que fizesse com que o poder público e os cidadãos tentassem refundar a cidade. Refundar no sentido de fazer de novo, e tentar fazer melhor, sem as mazelas que sempre teve. Refundar no sentido de olhar de uma maneira mais atenta para a cidade e para seus habitantes, incorporando um sentido ambiental no processo de desenvolvimento. Uma Antonina com melhor padrão de vida, de educação, de saneamento, com um plano Diretor que contemple os riscos da cidade. Por que não?
2012 é o último ano do calendário maia. Também é ano de eleições municipais. Na blogosfera capelista e seus 40 blogs, parece não haver outro assunto. Leis eleitorais, quem pode e quem não pode ser candidato, e por aí vai. Antonina está precisando de mudanças no Plano Diretor, que contemple um zoneamento da cidade em função das áreas de risco levantadas pela MINEROPAR. Antonina está precisando de mais políticas afirmativas para sua juventude, de educação de melhor qualidade. Antonina precisa de emprego e renda.
Será que os que sonham com a cadeira hoje ocupada por Canduca estão preocupados com isso? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário