Antonina também
teve o seu Pinheirinho, que tanta vergonha nos causa hoje. Nos idos de 1835, segundo
o indispensável Ermelino de Leão, os escravos de José Luiz Gomes, rico
industrial de Antonina, se rebelaram e o mataram, assim como ao seu
guarda-livros. José Luiz, rico e dono de diversos empreendimentos na cidade,
tinha bens amoedados em sua casa, inclusive uma bota cheia de moedas de ouro
que havia emparedado na casa de seu sitio.
Um
parêntese. Por isso, quem anda na ponta do Gomes/Pinheirinho ainda hoje vê,
junto comas ruínas de sua casa, diversos buracos feitos aqui e ali pelos caçadores
de tesouro nos últimos 180 anos. Os caçadores de tesouro outros eu não sei, mas
eu tenho o meu tesouro do Pinheirinho. Quando era guri, estive ali com meu pai,
com Seu Zeco Pinto e outras pessoas. Seu Zeco achou um patacão de cobre, cheio
de azinhavre, que me deu e que até hoje tenho, emparedado em algum lugar. Tinha
o brasão do império, valia 30 reis e tinha a data de 1832. Fecha parêntese.
Pois bem,
os escravos foram caçados na costeira de Guaraqueçaba, onde haviam se
refugiado. O maior medo de uma sociedade escravista é um levante de escravos. Nossos
avós, escravistas de quatro costados, ciosos de seus “bens” e quiçá de suas
vidas, sujavam as calças de medo de uma revolta como a do Haiti. Pois a pena
para escravo que matava seu senhor era a morte, com direito a pendurar os seus
corpos em postes para servir de lição, pra não incentivar novas revoltas. Sabendo
de seu destino, os escravos fugidos lutaram até a morte. Segundo Ermelino de Leão,
“foram os seos corpos expostos na estrada
do sitio, para exemplo, segundo a moral do tempo”. Não são esses os únicos registros
desse tipo de acontecimento em nossa querida e amada terra. Que orgulho de
nossos antepassados!
Infelizmente,
nós não podemos demonstrar qualquer superioridade moral em relação à nossos avós.
O Pinheirinho, em São Jose dos Campos (SP) é um exemplo cabal de como nós
resolvemos nossas questões com os menos favorecidos: na ponta da bota. Sim, a ocupação
era ilegal. Sim, a ordem de reocupação era legalmente bem feita. Sim, a ordem
foi executada com presteza. Tudo bonito, justo e legal, como os tucanos em
geral e os de São Paulo em particular gostam. Precisava, em pleno século XXI e 25 anos de
regime democrático, chegar a um ponto onde o cacete vale mais do que a negociação?
À exemplo da reocupação da USP, meses atrás, feita na maior “limpeza” pela PM
paulista, o Estado mostrou como conversa com quem o desafia. Aliás, alguém ainda
se lembra da “limpeza étnica” que foi o massacre no Carandiru em 1994?
Ainda temos
uma elite com medo, que prefere atirar primeiro e negociar depois. Só uma elite
competente e consciente de sua fragilidade como a elite brasileira – e, mais
ainda a paulista - agiria assim. Perde uns anéis aqui, uns brincos acolá, mas
quando se sente acuada resolve tudo na botina, no cacete, na bala. Como os
tempos pedem, tudo muito limpo e dentro da lei. Lei pra quem? Como os escravos
revoltados da fazenda Pinheirinho, em Antonina, que na época pertencia à província
de São Paulo, como os moradores do Pinheirinho de São José dos Campos, os
estudantes da USP e os presos do Carandiru, os subordinados precisam
urgentemente aprender qual é o seu lugar. Senão….
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